13.3.12

Que sufoque então

E eu
quebro
queimo
apago o cigarro
derrubo
ofego 
arranho
rasgo
machuco
sussurro
suspiro,
trêmula,
espalho as tremas
os pingos nos is eu
esqueço - às vezes -
e os cortes nos tês.


Que sufoque, então
os abraços
os afagos
as lágrimas, 
que afoguem.
Que sufoquem, então, os afetos.


Que soterre, então
o controle
a atenção
Que desabe
- devagarzinho -
O céu.

8.3.12

Baú de nostalgias

Garrafas vazias na pia da cozinha, eu escavo minhas cicatrizes em busca de um baú de nostalgias. Tremor e vento gélido. Lágrimas caídas no meio fio e o riso flutua sobre a correnteza do rio. Sem culpa do tempo perdido, dos atos falhos, por abrir o portão despenteada e com a cara amassada de sono, aquelas páginas amassadas por descuido, feridas que eu expus por confiança. Bobagem. Eu me faço, assim, de cinzeiro humano, e não é sem dor que deixam suas impressões em mim. Mas há afeto, eu sei. Há calor. Há um certo prazer em estar ali, jogada na calçada como uma sem teto, esperando o próximo ônibus, voltando pra casa com um sorriso largo no rosto e um cansaço pesado por todo o corpo. Que seja dessa forma, então. Que venha. Que fique. Que parta, como tantos partiram – e vai ser longo, e vai ser doído, logo pra mim, que sou tão agarrada a uns pequenos detalhes da rotina. Mas eu repito, por favor, que fique. Pelo menos o bastante pra que eu junte essas memórias do café que esfriou, do incenso que ficou pela metade, das cinzas que se espalharam pela sacada. Eu quero lembrar. Eu quero não pregar os olhos nas noites quentes de insônia e ficar sentida com fotografias mentais. Logo eu, meu Deus, que sou movida pelas pequenas paixões, que vivo rezando pros céus pra que ninguém se fira – mas é tudo mentira. É na ferida que eu enterro o meu baú de nostalgias.