27.4.15

ilha da água corrente 
o som que sai da tua boca 
também é o som do silvo da serpente 
cruza do sol mais a Lua 
tem vestes de deusa e preferia andar nua 
esconde o ferrão sob a pele de gente 
e usa um colar de dente de alho 
não trepa não bebe e não joga baralho 
seu sorriso emana a luz do dia
e enlouquece até a sabedoria 
anda encenando uma coreografia 
por onde passa dá "bom dia"
"boa tarde" e se arde
pelas ruas e pela noite

14.4.15

casa dos 20. cheguei aquela idade em que é claro que beleza importa e inteligência também conta um bocado, mas pouca coisa é tão atraente e satisfatória quanto alguém que saiba dar risada e também saiba fazer rir. em tempos de fodas sem propósito algum, século vinte e um meu bem, todo mundo trepa sem achar belo e mesmo assim até hoje pouco se preocupam com que mulheres tenham orgasmos. tão pouco tempo de vida e a gente já sabe o gosto da vida, não mais que duas décadas cozinhando dentro dessa carne flácida e ferida, quelle horreour ou o diabo que o valha pois francamente: que me importa que você fale francês que conheça Caetano que cozinhe muito bem se a vida tem esse gosto que não, não é amargo, mas salgado feito o suor e a lágrima que a gente derrama todo maldito dia. nesses tempos minha querida: rir é até melhor que gozar. porque gozar a gente goza só, isso sim é possível, mas rir sozinha é triste enlouquecedor e digno de... de sei lá. piedade. vinte e poucos anos e só estamos desesperados pra caralho pra dar uma boa gargalhada das nossas manias de tragicidade heróica. não meu bem não sei não se essa palavra existe mas essa é realmente a menor das minhas preocupações agora, existe uma lista de coisas que não existem e me preocupam na frente e algo tão ridículo quanto uma mísera palavra... é, vai ter que esperar.

uma poesia de amor

houve um tempo em que eu media
o tempo em cigarros e escrevia
longas cartas tristes todo dia
achando que tristeza era poesia
de cinco a dez minutos eram a duração de um cigarro
a gente sentava na calçada e ficava olhando os carros
hoje quando eu penso nisso me vem um escarro
e eu nunca enviava as cartas porque os remententes não existiam
os meus pedidos de socorro os meus amigos
os seus amigos
faziam de contam que não ouviam
ou quando viam logo contentes apontavam e riam
"esses dois com certeza são os amantes mais afortunados que já existiram!"
e apesar das cicatrizes
saíamos nas fotografias muito felizes
e se a gente se separava
logo você me sequestrava
como um herói de conto de fadas
a princesa trancafiava
numa torre
não era lindo, meu bem?
mas graças a deus que era também
findo
amém