29.7.12


Ainda não era meia noite e Jordana pensava, sentada na mureta da sacada. Pensava idéias mudas (veja bem, não apenas silenciosas, mas mudas) e enviava aos céus preces enfraquecidas de que pudesse unir dois tempos, dois lugares, mil pessoas. Anos e anos desejando algum tipo de amor onipresente e agora, meu Deus, agora meus centavos estavam contados, agora o ano estava quase no fim, um turbilhão de sensações gélidas a faziam tremer da mente as pontas dos dedos. Com as duas mãos segurava um copo cheio de cachaça envelhecida em carvalho, forçava um sorriso, dava um gole pequeno – é claro, meu bem, pode pegar o cigarro que está aí – olhava o céu, suspirava. Se era o Lennon cantando no fundo? Se queria dançar? Pois bem. Somos tão jovens e ainda e cedo.Tão jovem, tão cedo, e havia tanta música, tanta dança, tanta droga, tanta risada e havia que Jordana se isolava, sentada na mureta da sacada. Pois dançasse com ou sem lágrimas nos cantos dos olhos, com ou sem chumbo no espírito, que terminasse logo aquela dose e cessasse de aguardar a resposta das preces. Há muito os anos dourados ficaram pra trás e ela sabia. O que lhe doía tanto, afinal, era saber que tudo aquilo era a sombra de uma nuvem passageira, e ela queria mais.
Fechou os olhos. “Vamos, vamos dançar”