Ainda não era meia noite e
Jordana pensava, sentada na mureta da sacada. Pensava idéias mudas (veja bem,
não apenas silenciosas, mas mudas) e enviava aos céus preces enfraquecidas de
que pudesse unir dois tempos, dois lugares, mil pessoas. Anos e anos desejando
algum tipo de amor onipresente e agora, meu Deus, agora meus centavos estavam
contados, agora o ano estava quase no fim, um turbilhão de sensações gélidas a
faziam tremer da mente as pontas dos dedos. Com as duas mãos segurava um copo
cheio de cachaça envelhecida em carvalho, forçava um sorriso, dava um gole
pequeno – é claro, meu bem, pode pegar o cigarro que está aí – olhava o céu,
suspirava. Se era o Lennon cantando no fundo? Se queria dançar? Pois bem. Somos
tão jovens e ainda e cedo.Tão jovem, tão cedo, e havia tanta música, tanta
dança, tanta droga, tanta risada e havia que Jordana se isolava, sentada na
mureta da sacada. Pois dançasse com ou sem lágrimas nos cantos dos olhos, com
ou sem chumbo no espírito, que terminasse logo aquela dose e cessasse de
aguardar a resposta das preces. Há muito os anos dourados ficaram pra trás e
ela sabia. O que lhe doía tanto, afinal, era saber que tudo aquilo era a sombra
de uma nuvem passageira, e ela queria mais.
Fechou os olhos. “Vamos, vamos
dançar”