20.4.14

Lua em libra

faço tudo pelo bem do
seu bem
e nem ligo em me dar mal,
em ser tua serva fiel
eu me sinto contemplada pelo sol
só de ver tu passando
feito uma deusa qualquer
esculpida em barro por alguma civilização que foi esquecida
há muito, muito tempo
tu passa
e nenhuma vênus
nenhuma nefertiti
é párea pra tua pele
preta
não abaixo a cabeça pra
Ísis e
nem Nix nem
ninguém
me põe assim prostrada
ela é só uma menina
e eu sou sua crente
fervorosa.

17.4.14

a mentira é uma verdade
muitíssimo mal contada
a quem ninguém dá tal valor
por se vestir esfarrapada.

a verdade é uma história
toda cheia de floreios
a quem todo mundo aplaude
por jamais errar o roteiro.
a menina com a luz nas pontas dos dedos
e a cor do mar nos olhos
ela dança com os pés em gaya
e o sol em capricórnio.
gritaram "mal-amada!"
pra uma mulher que se amava tanto
que era sua própria namorada.
toda festa ela chegava um pouquinho morta. mas sorria, sorria muito e sorria sempre, era especialista em sorrir. se ela se contorcia, gemia, ofegava, nua, ainda lhe diziam "que sorriso bonito que você tem". poderia sorrir com uma arma na cabeça, e o fez. sorria durante o sono e durante o choro. conquistava grandes coisas com aqueles olhos pequenos cor-de-âmbar, as linhas de expressão surgindo enquanto pedia "por favor".
e ganhava o mundo.
obrigada de nada volte sempre e você tem um belo sorriso, moça.
uma garota com aqueles dentes não passaria fome jamais.
uma menina dona daqueles lábios jamais precisaria beijar.
vinha de outro planeta. quando aterrissou na terra, tudo a impressionava, e por isso não fechava a boca nunca. o nome dela era alice, mas havia quem a chamasse de margarida ou de teodora.
isso nunca importava: tinha uma saia florida, sempre, e os pés descalços, e ria como uma alucinada com um copo de rum na mão. tropeçava nos próprios pés e prosseguia dançando, linda, louca, livre. triste.
de uma infelicidade gigantesca que não poderia jamais ser contida naquele corpinho mortal. e voava pra longe, alcançava o éter, desaguava em tempestades furiosas que desabrigariam populações. uma tristeza que pranteava toda a miséria e toda a desgraça, todas as bruxas queimadas em fogueiras e cada criança morta à tiros no meio de uma guerra. sua melancolia era a nascente de nevoeiros e também secava toda a água dos poços mais profundos.
mas sorria muito, a menina. no gozo e no grito e principalmente no desespero.
os pés tocavam o chão e erravam o passo.  a menina errava - inteirinho - o compasso da música e se rebolava, embebida e sofrida.
as mãos para o alto eram uma súplica.
por favor que os deuses me levem.
mas ela permanecia ainda na terra. sem jamais esmaecer o rosto alegre.

12.4.14

tu odeia a batida do mundo
do sujo do preto profano
exatamente porque pra sentir o tesão
do tambor
não é pra tu
é pro cê
cês querem domar
nóis
porque a gente é livre a gente é libido 
porque a gente é
lindo

8.4.14

mais uma sobre saudade

cê reclamava que o meu beijo
vem com cheiro e gosto de café
e eu chorava muito no teu colo sem nem um pingo de

e nem coragem

eu já sabia que você estava em mim
só de passagem
cê já sabia que eu ia fugir
do fim
da minha imagem
no espelho
conselho que eu me dou
amasso feito bolinha de papel

pra quê sentir tristeza
invés de passar a língua devagarzinho no
céu
que belezinha

eu nunca mais devolvi aquele seu chapéu
tu nunca mais devolveu aquele meu
coração
doeu
chorei
choveu
naquela esquina
(e por aí afora)
ainda se (de)compõe letras de
poesia

5.4.14

poesia para a nóia

me assustei com minha sombra
mastiguei aquela carta
engoli o grito
arranhei as paredes

será que você ainda pensa em mim?
será existe outro ódio igual ao meu? espelho
espelho meu.
que tu se lembre toda noite
do meu isso do nosso aquilo
quero que cê chore sangre
morra
de tesão horror de culpa
de insônia
de tiro à facada sufoco
de inanição

será que meu pranto te assombra
como seu sorriso me assombrou?
você me deve noites de sono
500 reais minha sanidade
saudade
de te ver chorar.

4.4.14

mais uma besta sobre mágoa


Teu cheiro
ainda me leva ao choro
chove
chora
sem parar
você roubou as palavras bonitas que eu tinha bastante pra rimar

seu nome rabiscado numa esquina
uma velha cicatriz
tu mentiu eu fui atriz
e fui eu quem perdi, cê sabe

eu dei a cara pra bater deu coração te dei a grana
eu fiz meus planos
se eu remava sozinha essa canoa
seja capitão do seu destino:
se afunda.
sozinho.