15.12.14

eu queria hoje
hoje sábado à noite quando eu costumava me aninhar no colo de um filho da puta e rasgar meu peito inteirinho
eu queria hoje a noite, sábado, agora
sentir alguma coisa
nem que fosse pra beber 
meio litro de cachaça como eu tanto
já fiz a não muito tempo
parece que foi ontem
nem que fosse pra cheirar quinze gramas nem que fosse pra enfiar a brasa
dum cigarro aceso
no meu pulso
eu ainda tenho aquela marca descendo os meus
quadris
e aquela ferida por dentro do nariz
eu queria
quebrar os ossos da mão direita
no maior murro de todos os tempos
que essa preta aqui já pôde
desferir
eu queria
que toda minha memória de companhia
que todas as vezes em que eu me senti
a salvo
eu não estivesse sido violada
queria voltar atrás e sussurrar praquela enfermeira, pobrezinha
que não falta nenhum osso sequer
que o sangue vai estancar
que eu nunca na minha vida me encontrei com aquela menina que eu
amava tanto
que os arroxeados não eram
minha culpa
mas eu queria mesmo
mesmo mesmo de verdade
sentir as pontas de uns dedos
correndo as minhas costas
e dormir uma noite só
uma única
sem medo.