20.8.13

pois que mais alvo que a neve o teu sangue nos torna, Senhor.

bendito seja o Cordeiro 
que na cruz por nós padeceu.

(o animal foi criado para servir de sacrifício do Humano).


alvo, ainda mais que a neve.

(o negro foi designado pra servir ao Branco.)


sim, nesse sangue lavado


(a chacina de mulheres é justificada pela honra do Homem).


mais alvo que a neve serei.


Oh! Quão profundas as chagas.

cruxifiquemos Cristo novamente.
Deus diz que em seu nome estamos livres.
ele mente.

a gente acaba se tornando meio solitária quando quer alcançar o alvo.

19.8.13

hell

Eu me lembro de quando passava horas pensando em várias maneiras de te declarar meu afeto. Meu amor, meu amor, não era o bastante que eu te chamasse assim. Sendo assim, a cidade continuava maravilhosa, você permanecia encantadora e uma neblina cobriam as aulas de gramática. Poesia. Até Vinícius podia, se fosse pra te ver sorrir. 
Eu te adorava em todos os centímetros intocados do seu corpo.
Enquanto isso a gente virava crônica, eu desaguava solitária em romances não vividos porque sabia que éramos nós ali. Duas meninas. 
O som da gaita, as gotas da piscina, sua risada ecoando madruga afora. Você gosta de café? Eu gosto, eu gosto. Não vamos nunca mais dormir.
Tu acende um cigarro, eu censuro. Quero teu peito intacto. Quisera eu habitar ali. A conversa vira fumaça, a distância vira cinza e eu me sinto próxima. Tão pequena, tão menina, tão The Beatles e Cachorro Grande, e eu ali, acreditando estar apaixonada. Eu estava.
Cheia de encantos mil. Eu ainda lembro, como me esquecer, estávamos sempre embriagadas. Também não me esqueço das suas mentiras, das nossas risadas. Do meu sofrimento das 22h às 4h da manhã – insônia desejo desperta... deserto. Um “meu bem”  construído na areia. Que pena. 
Com amor,
sua. 

17.8.13

amor oprimido, rancor reprimido.

a mulher sentada no meio-fio de madrugada.
um sorriso triste de lábios
vermelhos.

isso é sangue ou é batom?

quanta melancolia há de se encontrar na beleza de um romance
regado a gritos e "nãos"
hematomas,
sexo de reconciliação.
mas ninguém se reconcilia.

e eu continuo me perguntando sobre os lábios vermelhos da moça.
é sangue ou é batom?

ela acredita viver dentro duma poesia 
poema tanto quanto sádico, talvez.
eu sei.
eu te sinto.

é sangue.
é batom.
a arte imita a vida.

11.8.13

me disseram que eu era única.
me fizeram acreditar que eu era
diferente, genuína, especial
que eu seria artista de cinema
bailarina
poetisa
viajante
desbravadora dos mares do éter do espaço
sideral.

sideralmente - veja bem onde eu estou
até onde a estrada me trouxe.
no céu, estrelas mortas que ainda vemos brilhar.
nos deixamos atrair por elas como mosquitos de luz
até aqui onde caule de violeta não perfura asfalto.

não alcançamos o éter,
não alcançamos o alto.

aqui estão todas as pessoas que sonhavam com a luz.
agora compartilhamos sonhos dormentes na escuridão
com sorrisos frouxos,
voz mansa,
dor nas costas
restos de esperança
destroçados pela última ligação.

"o que deseja?"
ninguém nunca mais me perguntou o que eu desejo.
eu desejo que o relógio marque as dez.
eu desejo me embriagar.
esquecer.
voltar para aquele tempo em que eu era única.

aqui morrem os promissos. 

9.8.13

Coração inteiro, ego partido.

não creio que as pessoas se completem. 
mas falta algo. 
falta algo e eu não sei o que é, ou de quem vem. 
falta.
e tenho que ficar repetindo pra mim mesma, como um mantra:

"eu sou uma pessoa inteira"
"eu sou uma pessoa inteira"
"eu sou uma pessoa inteira"
"eu sou uma pessoa inteira"
"eu sou uma pessoa inteira"

eu sou uma pessoa miserável.
e esse é um mantra mentiroso.

Revogo o perdão.

você arrancou de mim
a parte que amava sem temer
a parte que amava doa a quem doer
sangue,
suor
e lágrimas.

agora você me deve ao menos
(meu bem)
suas noites tranquilas de sono.
espero que envelheça rápido,
morra jovem
e desesperado.

6.8.13

O amor é uma doença degenerativa.


Sei lá se foi amor. Foi algo do tipo, acredito. Me fizeram acreditar que fosse, ao menos. Que era assim mesmo. E dói - mas não como antes. Não é a ausência que machuca dessa vez. Sua presença me assombra.
Queria te desfazer de mim. Esfregar a pele até que ficasse em carne viva, pouco importa, só para que não lhe reste recordação alguma dos seus toques. Quero cuspir fora os beijos. Transformar em ânsia o prazer. Quero que os suspiros e sussurros se tornem em berros de fúria. Eu recolho o meu perdão.
Nada que você faça vai adiantar. Você não pode mais ficar aqui. Não com essa máscara, não com esse sorriso, não com esses presentes, não com suas promessas de que tudo ficará bem. Eu quero que dos teus registos só me restem as cicatrizes, que suas amarras me deem força para reagir.
Eu não quero te apagar da memória. Não mais. Quero gravar bem suas juras de morte para que tudo isso me mantenha viva.
Eu já não sou a mesma.

Uma pena eu nunca ter sabido quem você é.