15.12.14

eu queria hoje
hoje sábado à noite quando eu costumava me aninhar no colo de um filho da puta e rasgar meu peito inteirinho
eu queria hoje a noite, sábado, agora
sentir alguma coisa
nem que fosse pra beber 
meio litro de cachaça como eu tanto
já fiz a não muito tempo
parece que foi ontem
nem que fosse pra cheirar quinze gramas nem que fosse pra enfiar a brasa
dum cigarro aceso
no meu pulso
eu ainda tenho aquela marca descendo os meus
quadris
e aquela ferida por dentro do nariz
eu queria
quebrar os ossos da mão direita
no maior murro de todos os tempos
que essa preta aqui já pôde
desferir
eu queria
que toda minha memória de companhia
que todas as vezes em que eu me senti
a salvo
eu não estivesse sido violada
queria voltar atrás e sussurrar praquela enfermeira, pobrezinha
que não falta nenhum osso sequer
que o sangue vai estancar
que eu nunca na minha vida me encontrei com aquela menina que eu
amava tanto
que os arroxeados não eram
minha culpa
mas eu queria mesmo
mesmo mesmo de verdade
sentir as pontas de uns dedos
correndo as minhas costas
e dormir uma noite só
uma única
sem medo.

13.11.14

vou morrer de saudade

houve um tempo em que se fazia
samba e amor
até mais tarde
e a gente amanhecia já
sem saber direito o dia
dançando rodopiando com os pés descalços
as solas cascudas
o sorriso cansado e satisfeito estampado
na boca no olhar

houve um tempo em que a gente dormia
num amontoado de meninas
só quando já fazia sol
de mão dada a luz invadindo a cortina
e nosso cansaço vinha só da alegria
da farra a gente tinha garra
pra enfrentar setenta e duas horas de
risada
e ainda sonolenta
no meio do silêncio
o som do tambor ainda ecoava
dentro da nossa cabeça

houve um tempo em que a gente fingia
que ninguém tinha medo
não precisava!
que a gente achava era graça
de tudo quanto era horror de tudo quanto era desgraça
a gente se embebedava
andando destemida de madrugada
se contavam moedas pra escolher
a cachaça mais barata

houve um tempo
em que eu sabia de cor
nossos cheiros nossas manias
tua marca favorita de cigarro
as colheres de açúcar no café
e se falava muito de futuro se falava bastante
de sonho
e se confessavam fantasias
e se trocavam segredos
e a cidade era desbravada pela nossa sede

mas hoje em dia
ah! hoje em dia só é tempo
de receio de ressaca
de mágoa de manha
de ter muito sono
de manhã.

5.11.14

eu te amo



seu namorado te amaria se você
tivesse mais pêlos pelo
corpo
que na sua cabeça?
seu namorado te amaria se você
deixasse uma
monocelha?
seu namorado te amaria se você
de repente engordasse 10 quilos?
e se fossem trinta quilos
e se fossem cinquenta quilos
e largasse a academia?
seu namorado te amaria se você não ficasse
de quatro
se você não fizesse
limpeza de pele
nem as unhas
e nem a maquiagem?
seu namorado ainda te amaria se você
não fizesse aquela voz de dengo
antes de desligar o celular?
ele teria se apaixonado se você
não tivesse feito pose
nos 2 primeiros meses
seu namorado ainda acharia encantadora
a sua beleza natural
se soubesse que a natureza te deu
axilas e pernas cabeludas?
seu namorado ainda te amaria se você
não modificasse
ABSOLUTAMENTE NADA
em você?
seu namorado ainda te amaria
se você se amasse
do jeito que você é?

comigo não

menina não faz
assim
comigo
ce me massacra, eu
nem ligo
meu mundinho
e meus beijos
girando ao redor do teu
umbigo
ô bonita eu tô tão
na sua
se eu pudesse eu batia
de porta em porta na rua
até você aparecer na janela sorrindo
eu te olhar e sair
correndo
fugindo
até a esquina feito menina
que toca a campainha e se esconde
é que eu vim de longe
mas não trouxe palavra nenhuma
eu só tenho pra ti meu mais sincero
fica-aqui-do-meu-lado

homenagem ao eduardo campos



homem branco
sempre vira
santo
a 7 palmos do chão
homem branco morre um e
vira notícia
vira tragédia
morre de queda de avião
mulher preta morre 10
vira estatística
morre de tiro de aborto inseguro
de fome de espancamento
de solidão
homem branco morre e a nação se descabela
chora o tamanho da conta bancária
a importância de uma carreira política e o futuro do
país
e a gente diz que é menos um
como já se foram
tantas e
tantas
de nós
mas a tragédia é sagrada
o cara era macho
a pele não era suja como a nossa
então que façamos luto
homem branco
sempre vira
santo
a 7 palmos do chão
eu já não tenho sonhos 
eu tenho anseios
e já não tenho mais nenhum objetivo 
só tenho pressa 
os livros que não terminei de ler estão
marcados com orelhas
as noites que não dormi
me marcaram com olheiras
eu só soube desenvolver
uma puta de uma gastrite
e uma habilidade teatral em
engolir o choro
e fazer cara de marra
eu só quero que chegue amanhã
eu só quero que chegue depois de amanhã
eu só quero que chegue semana que vem
eu só quero chegar aos sessenta anos
e poder sentie saudade
desses dias mal vividos

19.10.14

eu não sou filha de pátria
grandeza não cabe em padrão
não respondo a pai
fui parida
criada arisca
e se tu me fizeste tereza
hoje, ódio meu, sou sabina
mas não faço amor
ao som de trovão
hoje eu transo a tempestade
me ensinaram, menina pequena
e criança inquieta
que quem me concebeu foi
a floresta
ao ser inundada pelo oceano
e se olhares ao meu redor
vai ver que não sou só (não mais)
mas se me olhares bem no fundo
dos olhos
vai ser engolido, ódio meu
pela solidão
dessa tereza que tu criaste
e se eu te trair
é que eu me traí
e se todos os nossos segredos
se espalharem com essa ventania
ouve bem meu caro
essa alma por meses foi seca
ouve bem ódio meu olha bem
eu é que me lembro bem
quando tu me disseste que eu era o sol
e eu o era
mas se olhares bem no fundo
dos olhos
vai ver que agora chove dia após dias
cotidianamente
até te matar
afogado.

24.9.14

pros dias sem consolo 
me basta ser inconsolável 
prum sol ardendo forte 
ou uma guimba de cigarro 
pro céu limpo lindo pro passarinho 
livre
pros livros muito bons
de que me vale
se nada parece um pró
o que que tu tens contra
eu chorando aqui no meu
cantinho
se tá muito caro o pó
a cerveja é amarga
o vinho é seco e a lâmina é cega
as boas músicas não tem nexo
sem sexo
por telefone ou pele
na pele
sem beijo sem eixo sem teto sem chão
uma agulhada no coração
pros dias inconsoláveis
me basta um edredom
boa noite, meio dia!

21.9.14

tw ser mulher

A cor da pele
À FLOR DA PELE!
quando esfria as cicatrizes ainda 
se retorcem, lá dentro
a gente coça arranha
enfia
o dedo na ferida
estoura as bolhas nas pontas dos dedos
e fica ali.
de mãos atadas vazias geladas.
E não tem cuspe
E não tem lágrimas
não tem mais
seus dedos brancos ao redor
do meu pescoço
seus dedos
os meus
entrelaçados um gemido
no meio da noite o sussurro
"putinha"
"cachorra, vagabunda"
e eu sorrindo lindo
eu chorando e o sangue
escorrendo
te amo
você quer me livrar de tudo
que é sujo e me machuca
menos de você?
te amo
E eu não sei porque você me odeia tanto
eu não sei porque eu me odeio tanto
mas aceito.
meu algoz. te amo.
3 vezes te amo antes de
dormir
e enquanto durmo tu
me ama?
insônia, um livro ruim e uma garrafa de cerveja
duas três sete
o soluço desembestado rompendo
rompendo
o silêncio
eu vou
implodir.

1.9.14

tw

indústria da moda
anorexia bulimia
câncer de mama
câncer de colo de útero
ovários policísticos
cólica, menstruação
maternidade
aborto clandestino
prostituição infantil pedofilia
fetichização da mulher preta
exploração sexual - de qual sexo?
lesbianidade, toda
sexualidade
que não for voltada ao consumo masculino é
condenável.
violência obstetrícia feminicídio
pêlos
a mulheridade é um construto social
dolosoro

pra você, um gatilho
que é o cano de uma 12 apontado na nossa cara

MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE

A paixão é uma droga agressiva que pode acarretar em sequelas físicas & psicológicas. 
Pode ser tanto inalada, 
ao cheirar um moletom com perfume borrifado
injetada venalmente 
ou consumida (em beijos) de forma 
oral.
Os efeitos costumam ser semelhantes aos
da cocaína
e podem funcionar como estimulantes
de produção de
serotonina
endorfina e
dopamina.
Pode ser utilizado como termogênico
ou apresentar eventualmente visões ou
sensações alucinógenas,
proporcionando aos seus
usuários
uma fuga de suas realidades materiais.
Esses usuários podem apresentar
grande falta de interesse
pelas coisas do dia a dia e tudo o que não envolva a sua
paixão.
Períodos de ausência
Falta de apetite
Perda excessivo de peso
Mudanças bruscas de humor
Alterações em suas preferências e
personalidade
são sintomas recorrentes
do uso abusivo
dessa droga.
Afastamento de seu ciclo
familiar e de amizades
também costuma ser
comum.

A paixão é uma droga
acessível
a todas as classes sociais
que não discrimina raça sexualidade ou
religião.
A influência da mídia interfere e
muito
no modo como vem sido realizado
o uso dessa substância.
É importante que se crie
campanhas
de conscientização
a respeito das diferenças entre o uso
consciente e curativo do amor
e a paixão como
vício destrutivo.

Por vezes as
sequelas causadas
são permanentes.
Não existem níveis seguros
para o consumo da paixão.

28.8.14

se espreguiçando ao sol 
lambendo feridas
arrancando cabelos
comendo morangos
roçando os pés por baixo da
mesa 
de jantar
num restaurante japonês
lendo best sellers bem ruins
olhando a tela vazia da tevê
afagando vira latas
na volta do bar
se tocando no meio da
madrugada
dançando tango sozinha
no quarto no escuro
chupando laranja pêra
esmagando folhas secas
com os tênis novos
assoando o nariz sangrento
tomando banhos bastante longos
raspando a cabeça
comprando sapatos
fumando cigarros de filtro vermelho
resolvendo equações
rabiscando esboços de nus
escutando péssimas músicas
escutando ótimas músicas
passando um final de semana
na praia
na montanha
na cama
trancadas num quarto nuas
bebendo muito vinho tinto de
sete reai$
em garrafas de plástico
visitando museus
dormindo em cinemas
dando um tiro
dando um trago
como que tapa esse buraco?

26.8.14

mulheres têm pelos
mulheres têm celulite
mulheres têm estrias
mulheres têm barriga
mulheres têm vagina
(que não é a mesma coisa 
que a vulva ou a uretra)
mulheres têm ovários
mulheres têm cistos
mulheres têm seios
que são parte de seus corpos
e não deveriam ser vendidos
pra consumo masculino
mulheres têm útero
mulheres têm cólica
mulheres têm abortos ilegais
mulheres têm filhos indesejados
mulheres têm medo
mulheres têm maridos agressores
mulheres têm mais de um emprego
mulheres têm namoradas
mulheres têm gatos
mulheres têm muitos pares de sapato
ou às vezes não têm nem mesmo
5.
mulheres têm câncer de mama
mulheres têm que visitar o ginecologista
após um ano da primeira relação sexual
mulheres têm que se depilar?
mulheres têm que fazer as unhas?
mulheres têm que estar
sempre
cheirosas?
mulheres têm que ser submissas aos seus maridos?
mulheres têm tesão?
mulheres têm idéias?
mulheres têm alma?
mulheres têm lugar no Paraíso?

20.8.14

boa noite cinderela

Quando eu nasci, era muito grande
o maior bebê do hospital
era muito forte, também
e adorava exibir minha força.
Minha mãe disse que
eu podia ser o que quisesse!
eu poderia ser uma bailarina,
uma veterinária, uma
professora.
eu queria ser linda como
as apresentadoras de tevê, mas
eu não tinha o cabelo louro
liso, emoldurando meu rosto
nem a pele clara e nem os
olhos.
eu não era linda. mas era forte.
cresci e continuei forte. e feia.
e era mais inteligente
que todas as crianças da classe.
Aos 7 anos eu amava
filosofia e falava em
direito da mulher e greves, mas
ainda
não era
linda.
me disseram que devia chegar o momento
em que eu me interessaria por
rapazes
mas os rapazes só se interessavam por
meninas lindas
sem pêlos
com modos e que não saem
por aí
falando em Marx e Beauvoir.
Eu deixei de comer
e comprei algumas revistas de dietas
falava com a voz doce
alisei os cabelos e me depilei
dos olhos pra baixo
arranjei pernas finas
aprendi a usar o rímel
chorei em filmes idiotas de
romance.
ENCONTREI UM PRÍNCIPE!
Boa noite, Cinderela.
agora eu estava linda e
fraca.

tudo bem

quando eu tinha 6 anos
abracei minha mãe e chorei
eu disse que
eu era diferente
as meninas no recreio brincavam de barbie
e eu gostava de ler livros.
minha mãe disse "tudo bem"
mas eu aprendi a gostar de barbie mesmo assim.
quando eu tinha 10 anos
abracei minha mãe e chorei
eu disse que
eu era diferente
as meninas do colégio tinham cabelo liso
e eu não
minha mãe disse que não tinha problema
mas eu alisei mesmo assim.
quando eu tinha 13 anos
abracei minha mãe e chorei
eu disse que
eu era diferente
as meninas na televisão eram magras
e eu não
minha mãe disse que não tinha nada de errado
mas eu tomei pílulas pra emagrecer mesmo assim
e enfiei o dedo na garganta após cada
refeição.
quando eu tinha 16 anos
abracei minha mãe e chorei
eu disse que
eu era diferente
as meninas dos filmes tinham namorados
e eu estava apaixonada por uma menina.
minha mãe disse que não ligava.
mas eu namorei um rapaz mesmo assim.
ele gostava
dos meus modos infantis
dos meus cabelos longos e lisos
e do meu corpo pequeno e frágil.
gostava tanto que o fodia
mesmo durante meu sono e
depois de gritar comigo e eu chorar.
ele me fez jurar que jamais o trocaria
por uma ruivinha bonita.
então eu o deixei por uma moça loira e adorável
raspei a cabeça e engordei
10 quilos.
então abracei minha mãe e chorei
e ela disse, de novo, "tudo bem"
mas eu ainda coleciono barbies.

19.8.14

se eu tivesse um reino,
eu não digo
que haveria só paz e felicidade
mas que lá todo mundo ia poder chorar à vontade:
nos supermercados, na escola
no caixa eletrônico e na estação de trem
sem precisar esconder de ninguém.

se essa terra, se essa terra fosse minha
quer dizer,
se eu fosse a rainha,
não prometo saúde, mas juro
que doença jamais seria motivo
pra cercar ninguém atrás de muros

se eu fosse dona do mundo!
se eu me chamasse
Raimundo,
pouco importa.
eu não sei fazer rima
e nem achar as soluções.

17.8.14

Tava ali. jogadinha.
feito pinheiro em Julho, casaco em fevereiro
Jogadinha, só, empoeirada
e embriagada.
(claro, como sempre)
E eis que você - uau!
tanto em comum
metade da laranja, claramente
o branco do seu olho se parece com o meu
e tu ali
jogado. 
também.
embriagado.
TAMBÉM
Deus mandava tantos sinais que
foi por isso que tu
era o capeta
e eu
também.
(novembro de 2013) eu gosto tanto de te olhar. mais do que eu gosto de ver o sol nascendo ou de assistir meu filme favorito. eu gosto de te olhar mais do que gosto de ver um gato se espreguiçando no sol ou um céu estrelado em Minas Gerais ou uma menina dançando com flores no cabelo e saia rodada. eu gosto mais de te ver do que de ver cinco bem-te-vis enfileiradinhos assoviando na mureta da varanda. gosto mais que de um jardim cheinho de rosas vermelhas e amarelas com borboletas cor de laranja. gosto. mais que ver o circo. mais que um show do Cícero.  mais que a feira colorida, cheia e cheirosa no sábado às 9 da manhã - te ver é mais gostoso, melhor ainda que praia em fim de tarde com gaivota no céu ou um fusquinha velho e cor-de-rosa atravessando a Avenida Boa Morte. você é mais bonita que o espetáculo mais bonito e mais caro e mais raro, até morta de ressaca e com remela no olho direito. minto. principalmente desse jeito, acordando quietinha, as costas magrelas, o sol batendo na cara, expressão eterna de sono. e eu lá. eu aqui, a ponto de chorar de tão bonita a careta que você faz quando acendo um cigarro. aí vou e acendo outro pra te irritar e só. melhor que ir ao cinema (eu nem gosto de cinema, mas ainda que gostasse, preferiria te olhar). quase melhor que te beijar. quase. mas se eu pudesse, me olhava te beijando só pra chorar/sorrir um tiquim. olha lá. a gente no espelho. que bonito.

16.8.14

migração

te vejo  nas pernas
finas
daquela dançarina
de maracatu.
te vejo naquela
menina
na saída da escola
- a que eu beijei
e na que eu não beijei
também.
me encanto em todo
canto
por alguém
como você.
te encontro em cada esquina
das cidades em que 'cê
nem vive,
nem viverá.
tu dança feito
vôo
tu voa feito sabiá
pra longe, distante de mim.

te gosto
mesmo assim

parafraseando Drummond

no meio do caminho tinha uma libriana
tinha uma libriana no meio do caminho
tinha uma libriana
no meio da cozinha
bebendo um copo de cerveja
tinha uma libriana
na frente da geladeira
tinha outra libriana
sentada no meio fio
e uma libriana do meu lado direito
da cama

nunca me esquecerei
do sorriso dela
daquela cara desgraçada de distraída 
que não sabe
o quanto é bonita.

22.7.14

10 degraus na minha escada
que me tira desse
nada
cada vez mais diminui
eu reaprendo o 
desapegada
não tem companheira não tem camarada
não tem
além
da Bahia, amor
do Hell, calor
de Janeiro à
Março.

7.7.14

queria poder guardar
sua risada numa caixinha
queria poder dar corda
e nunca mais ficar sozinha
só de escutar
sua risada ecoar. de novo e
de novo
num replay infinito
do meu barulhinho favorito
e todo dia cedo,
poder acordar de manhã
sem tristeza sem choro sem medo
com um sorriso enorme estampado na cara
lindo e limpo
(feito a gente)
num mundo em que eu construa
no meio de todo esse limbo
um trilho de trem que ligue
a minha saudade e a sua
pra escutar e pensar num mundo
onde a gente se esbarre na rua
sem querer,
querendo.

afasta de nós esse cale-se

você chora
você cheira
você chupa
você chove-e-não-molha
e chora mais um pouco
e mais um monte

você senta
sozinha
e se sente
mais sozinha ainda
e se culpa
talvez por ser só mais uma fodida miserável
desgraçada por aí
pelos cantos

menina, não é pra tanto

mas tu se mutila
e se humilha
e se esparrama, seus pedaços
em abraços sufocantes
de quem não quer nada além de
ocupar seu corpo
esfrangalhar sua
alma
perturbar tua calma

e cê bebe se afoga se engasga
com aquilo que já sabe que você SENTE
não ser carinho, porque se fosse
pra que tanto espinho?
se é afago pra que te abusa

se é bonito por que dói?

o amor é um bicho, você não
precisa ser
domesticada.

4.7.14

meu corpo, meu templo
minha morada
e minha prisão
um para-raios de repulsa de ódio
abrigo do meu medo
da minha dor

não existe meio de fugir
do meu
refúgio.

só resta então amar(-me)
por inteira
este meu pedacinho da Terra
dificilmente eu perdoo eu jamais esqueço
eu me apego e adoeço
não insisto e nem desisto
se eu te encontro eu não resisto
explodo em pranto, alguém consola
"mulher, não é pra tanto"
que que eu faço se eu não sei
sentir pouco?
não sinto muito
se eu te pus louco
foi tudinho por 
querer.

13.6.14


insolúvel
equação irredutível
você, ali, linda, risonha e
límpida
tão livre tão sua
e eu aqui
nua
calculando onde estará sua lua
será em libra será em touro
onde está o ouro
seria só mais outro
ego
eu vou construindo um altar de lego
eu que sempre fui que sempre
sempre sou
dispensável servil
substituível
eu que só quero ser mais uma fã
bem como sempre
não mente
pra mim

(e)namorada

triste dia pra
saudade
de querer seu braço
me puxando de manhã,
cedinho
me impedindo de acordar
triste dia
pra uma cama tão grande
prum coração gigante
pra uma vontade enorme

triste essa vontade de passar um
café
de alimentar essa fé no
romance besta
finito
lindo limpo puro
lavado a lagrimas iluminado a abajures

triste dia pros cafonas solitários
jogadinhos, assim
no meio-fio
sem carona, fumando um cigarro
manchado de batom
cor de rosa

feliz dia das enamoradas
meu bem

30.5.14

uma dose de
eros ágape philos
batido,
não chacoalhado
pouco açúcar
muito gelo
uma dose generosa de
limão
pra se embriagar por
3
noites
sem dormir

carolina

oi, menina. oi, meu anjo. quanto tempo que a gente não se falava, quanto tempo que o céu pareceu nublado. e eu jurava que o céu tava todinho cheio de estrelas! e nem parei pra olhar.
era poste, menina, era tudo lâmpada.
fazia tempo que não falava sozinha, que tudo o que eu fazia era pegar um celular e chorar e chorar. e vinha a voz do outro lado da linha de quem só queria meu mal e eu caía na armadilha. ô meu bem, ô minha princesa, por que que eu não voltei aqui antes? olhar teu sorriso, essa tua pintinha do lado... seria esquerdo? do rosto. é. esquerdo. eu te falei, meu bem, dele. te disse que era um querido, que me desejava bem. e tanto desejei que te deixei pra lá, que me deixei de canto. e tanto aconteceu! atravessei tempestades, intempéries, turbulências. mas tudo isso eu imagino que cê já viu e eu não vim até aqui pra contar maus bocados. eu vim aqui pra beijar seus pézinhos e escutar sua risada. vim aqui te falar que tudo bem, olha só! to forte, to linda, to limpa, to viva! meu corpo virou jardim, minha flor. parei de fumar tanto cigarro e ando viajando tanto... vi tanta coisa linda que eu queria que você tivesse olhos pra ver. olhos humanos, desses de care sangue íris e veias. mas eu sei que seus olhinhos são esses planetas que rebolam pela via-láctea lacrimosos alegres emocionados. meu amor meu anjo minha flor minha estrela.
quanto tempo que a gente não se falava.
deixa eu me aconchegar aqui sob a sua luz.
deixa que teu reflexo me abrace.
estamos juntas.
estamos bem.

29.5.14

ce sabotou minha mente, meu bem
eu vou sabotar
agora
tua vida.
não me importo que pra te
ferir
eu precise abrir
a minha ferida
tudo o que vai volta
mas não deixo o karma te
pegar
a causa da tua dor ainda ha de ser
minha
e eu nem ligo se pra te ver
chorar
eu tenha que passar toda a vida
sozinha

o rancor mata aos poucos por dentro
tudo bem
desde que eu possa
te destruir também

eu sou sobrevivente
da tua pirraça
eu pulo teus muros
eu quebro a vidraça
eu faço escandalo no meio da
Praça
da Sé

a vingança é um prato que se come
com muito
apetite.
eu sou
filha da terra e de mar bravo
a terra que treme terremoto
que guenta trovão 
o mar que engole toda uma
civilização
de uma bocada

eu sou filha
do levante e da quebradeira
saida de vagina
dentada
filha de mulher
erguida
criada
filha femea

eu sou filha de deus também
esse pai ingrato
que num me criou
nem me pariu

a puta que pariu mateus que balance
mulher balança a terra
sacode a luta
vence a guerra!

15.5.14

hipnótica magnética
tua presença HIPOTÉTICA
me deixa
patética
querendo estar na tua 
mão
sem um pingo de razão
eu rimo amor com dor com flor com
cor
de bronzeador
e o cheiro da tua nuca debaixo do sol
rima com meus lábios e com tudinho no mundo

8.5.14

desde que te viu
meu coração não fala
- batuca -
feito uma banda inteirinha de maracatu
ele chora
ele geme
sem pronunciar uma palavra.
e eu aqui, sem entender
perguntando
"me fala, meu bem,
o que passa na sua mente?"
mas não tem mentira
e nada passa
eu que sempre tanto pensei
racionalizei
discursei
ponderei
pus na balança e medi
experimentei e ousei
eu que tanto
falo
dialogo
to muda
to besta
to posta
to burra
to sua

sagrado feminino

toda preta é meio noite
toda mulher é meio lua
toda deusa já passou pelo açoite
a gente é mais linda nua

lista de desejos

quero tomar café da manhã/da madrugada ao seu lado
às 4
de cabelo armado
coração bagunçado
pelo arrepiado
provar do tato
explorar o olfato
dum quarto suado
e deixar que se espalhe o boato
que eu não sei mais fazer poesia se não 
sobre paixão

4.5.14

miojo

a cama de casal parece grande
tenho me sentindo pequena
feito mulher abandonada depois de 
10 anos de casada
mas eu nunca me casei 
mas eu venho estado sozinha
há um longo e bom tempo

acho que fui comprar cigarros
e nunca mais voltei.

de estrela

fecha os olhos
fala baixinho

beijo no ouvido palavras presas nos lábios

enrola o dedo
no cabelo, descabela

espero que cê não escute meu peito
disparando
disparates
de paixão de besteira de menina
despreparo

deita aqui do lado que eu
tremo
eu só sei
(só soube, a vida toda)
chorar distâncias

e agora qualquer toque
dá choque.

20.4.14

Lua em libra

faço tudo pelo bem do
seu bem
e nem ligo em me dar mal,
em ser tua serva fiel
eu me sinto contemplada pelo sol
só de ver tu passando
feito uma deusa qualquer
esculpida em barro por alguma civilização que foi esquecida
há muito, muito tempo
tu passa
e nenhuma vênus
nenhuma nefertiti
é párea pra tua pele
preta
não abaixo a cabeça pra
Ísis e
nem Nix nem
ninguém
me põe assim prostrada
ela é só uma menina
e eu sou sua crente
fervorosa.

17.4.14

a mentira é uma verdade
muitíssimo mal contada
a quem ninguém dá tal valor
por se vestir esfarrapada.

a verdade é uma história
toda cheia de floreios
a quem todo mundo aplaude
por jamais errar o roteiro.
a menina com a luz nas pontas dos dedos
e a cor do mar nos olhos
ela dança com os pés em gaya
e o sol em capricórnio.
gritaram "mal-amada!"
pra uma mulher que se amava tanto
que era sua própria namorada.
toda festa ela chegava um pouquinho morta. mas sorria, sorria muito e sorria sempre, era especialista em sorrir. se ela se contorcia, gemia, ofegava, nua, ainda lhe diziam "que sorriso bonito que você tem". poderia sorrir com uma arma na cabeça, e o fez. sorria durante o sono e durante o choro. conquistava grandes coisas com aqueles olhos pequenos cor-de-âmbar, as linhas de expressão surgindo enquanto pedia "por favor".
e ganhava o mundo.
obrigada de nada volte sempre e você tem um belo sorriso, moça.
uma garota com aqueles dentes não passaria fome jamais.
uma menina dona daqueles lábios jamais precisaria beijar.
vinha de outro planeta. quando aterrissou na terra, tudo a impressionava, e por isso não fechava a boca nunca. o nome dela era alice, mas havia quem a chamasse de margarida ou de teodora.
isso nunca importava: tinha uma saia florida, sempre, e os pés descalços, e ria como uma alucinada com um copo de rum na mão. tropeçava nos próprios pés e prosseguia dançando, linda, louca, livre. triste.
de uma infelicidade gigantesca que não poderia jamais ser contida naquele corpinho mortal. e voava pra longe, alcançava o éter, desaguava em tempestades furiosas que desabrigariam populações. uma tristeza que pranteava toda a miséria e toda a desgraça, todas as bruxas queimadas em fogueiras e cada criança morta à tiros no meio de uma guerra. sua melancolia era a nascente de nevoeiros e também secava toda a água dos poços mais profundos.
mas sorria muito, a menina. no gozo e no grito e principalmente no desespero.
os pés tocavam o chão e erravam o passo.  a menina errava - inteirinho - o compasso da música e se rebolava, embebida e sofrida.
as mãos para o alto eram uma súplica.
por favor que os deuses me levem.
mas ela permanecia ainda na terra. sem jamais esmaecer o rosto alegre.

12.4.14

tu odeia a batida do mundo
do sujo do preto profano
exatamente porque pra sentir o tesão
do tambor
não é pra tu
é pro cê
cês querem domar
nóis
porque a gente é livre a gente é libido 
porque a gente é
lindo

8.4.14

mais uma sobre saudade

cê reclamava que o meu beijo
vem com cheiro e gosto de café
e eu chorava muito no teu colo sem nem um pingo de

e nem coragem

eu já sabia que você estava em mim
só de passagem
cê já sabia que eu ia fugir
do fim
da minha imagem
no espelho
conselho que eu me dou
amasso feito bolinha de papel

pra quê sentir tristeza
invés de passar a língua devagarzinho no
céu
que belezinha

eu nunca mais devolvi aquele seu chapéu
tu nunca mais devolveu aquele meu
coração
doeu
chorei
choveu
naquela esquina
(e por aí afora)
ainda se (de)compõe letras de
poesia

5.4.14

poesia para a nóia

me assustei com minha sombra
mastiguei aquela carta
engoli o grito
arranhei as paredes

será que você ainda pensa em mim?
será existe outro ódio igual ao meu? espelho
espelho meu.
que tu se lembre toda noite
do meu isso do nosso aquilo
quero que cê chore sangre
morra
de tesão horror de culpa
de insônia
de tiro à facada sufoco
de inanição

será que meu pranto te assombra
como seu sorriso me assombrou?
você me deve noites de sono
500 reais minha sanidade
saudade
de te ver chorar.

4.4.14

mais uma besta sobre mágoa


Teu cheiro
ainda me leva ao choro
chove
chora
sem parar
você roubou as palavras bonitas que eu tinha bastante pra rimar

seu nome rabiscado numa esquina
uma velha cicatriz
tu mentiu eu fui atriz
e fui eu quem perdi, cê sabe

eu dei a cara pra bater deu coração te dei a grana
eu fiz meus planos
se eu remava sozinha essa canoa
seja capitão do seu destino:
se afunda.
sozinho.