26.11.12

Com carinho, Alexia.


Dimitri,
Éramos como gatos vadios perambulando por ruas escuras. A madrugada nos pertencia, querido. Procurávamos por cerveja barata e dividíamos o mesmo maço de cigarros, tossíamos a mesma fumaça cinza, compartilhávamos de pulmões e corações apodrecidos. Liberdade não era o suficiente? Abraços fortes frente ao cheiro de maresia não eram seguros o bastante? Você precisava do sufoco de se afogar no mar, na prisão de beijos e do compromisso de um “eu te amo”. Bem, isso eu não podia lhe dar. Não com a minha inocência insana e deturpada de uma menininha triste, sentada no meio fio, empurrando comprimidos com vodca garganta abaixo, as maçãs do rosto úmidas e salgadas. Eu era imensa demais. Meu beco ainda não era quatro paredes.
Meus sequestros desprendidos não cativaram teu cativeiro, meu riso era leviano demais, minha realidade te pareceu irreal por de mais? Meu pranto plúmbeo. Pesado demais para que você suportasse. Não era algo que eu pudesse lhe pedir. Pois então que se vá.
E não diz: que gostava de mim. Não diz que me entendia, porque não. Não me diga que a vida é incerta, que hoje eu já tenho minhas certezas.
Diz que eu lhe parecia bela encrustada de lágrimas, que sente falta das bebedeiras, que a leveza te encantava. Que quase se arrependeu. E se eu fosse você, não contaria pra ninguém.
Com carinho,
Alexia.