Dimitri,
Éramos como gatos vadios
perambulando por ruas escuras. A madrugada nos pertencia, querido. Procurávamos
por cerveja barata e dividíamos o mesmo maço de cigarros, tossíamos a mesma
fumaça cinza, compartilhávamos de pulmões e corações apodrecidos. Liberdade não
era o suficiente? Abraços fortes frente ao cheiro de maresia não eram seguros o
bastante? Você precisava do sufoco de se afogar no mar, na prisão de beijos e
do compromisso de um “eu te amo”. Bem, isso eu não podia lhe dar. Não com a
minha inocência insana e deturpada de uma menininha triste, sentada no meio
fio, empurrando comprimidos com vodca garganta abaixo, as maçãs do rosto úmidas
e salgadas. Eu era imensa demais. Meu beco ainda não era quatro paredes.
Meus sequestros desprendidos não
cativaram teu cativeiro, meu riso era leviano demais, minha realidade te
pareceu irreal por de mais? Meu pranto plúmbeo. Pesado demais para que você
suportasse. Não era algo que eu pudesse lhe pedir. Pois então que se vá.
E não diz: que gostava de mim.
Não diz que me entendia, porque não. Não me diga que a vida é incerta, que hoje
eu já tenho minhas certezas.
Diz que eu lhe parecia bela
encrustada de lágrimas, que sente falta das bebedeiras, que a leveza te
encantava. Que quase se arrependeu. E se eu fosse você, não contaria pra
ninguém.
Com carinho,
Alexia.