27.10.13

sobe a serra, desce o altar

imagina você numa bicicleta
vermelha
pedalando o contorno da praia
com o mar nos olhos.
imagina girassóis na cestinha da bike
o sol no céu
cor-de rosa, laranja e azul
deixando muito assim, meio que
uma fotografia
em preto-e-branco.

imagina a nostalgia com nome
rosto
documento de identidade, cpf e inscrição pro vestibular
a nostalgia dançando por aí de cara pintada
de saia indiana
de pés no chão
olha lá a nostalgia rodando feito peão
fugindo num balão pra Amazônia
com um livro de Bukowski debaixo do braço
riso na cara e sem celular

pensa só na saudade
quebrada
(esse verso é inteirinho dedicado ao "adeus" que eu não te dei)
chorando baixinho ao lado da Jukebox
com uma garrafa de cerveja na mão e bebendo
assim
no gargalo, mesmo
com o rímel borrado
gastando tudo em fichas.

imagina aí eu-você-juntinho, sabe?
correndo por cima da ponte
fingindo que o mundo nem existe mais
maracas na mão
rumba na caixa
saindo passear vida afora.

Endominguei.

eu sou inteirinha feita de domingos
aqueles cheios de solidão,
cheiro de frango assado e macarrão.
aqueles domingos de beira de piscina
com gostinho de pôr-do-sol
e bem-te-vis tristes por todo canto

e eu, que mal te vi
mal reconheci
nem me despedi.

às vezes pra deixar uma quebra
no verso
umas reticências
um reencontro sem "olá"
que eu só quero mesmo é te beijar.

endominguei 
todo mundo detesta
domingos.

domingo ao som de barão vermelho, tribalistas e legião
(larga dessa vida urbana e
vamos morar no mato
onde não existem segundas-feiras de manhã)

vamos pichar os muros da metrópole com frases de Drummond
vamos vender poesia no semáforo
dançar descalças na faixa de pedestres
e roubar um caminhão
inteirinho.

endominguei tudo
endominguei a gente
endominguei o amor.

21.10.13

29

eu esvaziaria todo o ar dos meus pulmões
pra ficar beijando
sua boca suas costas seus pulsos suas mãos

eu ficaria cega pra todo sempre
se isso fosse preciso
pra olhar seus olhos sorridentes

ensolarada e febril
eu almejo você
uma alma alucinante
a alma mais bonita do mundo.

256

debaixo das minhas unhas 
têm as suas células mortas.
abre a janela?
"não solta da minha mão"
não solto, não.

eu não tenho lar
não tenho ninguém
não tenho nem um maço de cigarros
e nem me sinto segura

vou fugir de casa
vou correr pra rua
vou fugir da rua

eu aposto nos
oitenta e sete por cento de chance
de dar 
tudo errado

18.10.13

Eu sou astróloga e conheço a história do princípio ao fim.

Eu quero traçar meu mapa nas pintinhas das tuas costas
- onde ficam minhas constelações favoritas -
que é pra ele ser sempre Astral.

Eu ascendo na minha menina.
Te faço de Vênus.
meu amor, meu amor.
eu gosto de falar de amor
eu gosto de pensar-amor
racionalizar
amor.
Mas ô, meu bem!

Ô.
Cariño.
Como me afeta esse afeto nem uma lua em gêmeos consegue entender.

Ascendo em você.

15.10.13

queria falar de luta, da repressão
queria falar em cuspir nos caixões dos torturadores,
da ditadura.
queria falar em queimar a bandeira
cobrir a cara
fazer farra
me embebedar.
mas só sei pensar que
as pintinhas nas suas costas parecem uma constelação
que quero beijar o céu - com licença
a palma das suas mãos
nas minhas
mãos
e sua boca machucada [do acidente que é estar longe de mim].

queria pixar o muro da frente da sua casa
escrever que depois dos 20 o tempo corre
que eu te quero até os vinte e nove
e depois mais.
eu quero revolucionar você.
com você.

e tenho certeza de que seria o fim das guerras se os grandes líderes mundiais te vissem
sorrir
e tenho a certeza de que nunca mais morre quem um dia pôde te beijar.

você é mais eterna que o poeta
você é tão eterna quanto a poesia
tão eterna quanto a rosa de hiroshima ou uma saudade ou o oceano
eterna feito éter
feito deus e o diabo
os Beatles
tão eterna quanto as muralhas da China ou qualquer ruína.
infinita que nem
o espaço sideral
te ganha
a galaxia nas tuas costas.

esse amor é ridículo como
star-girl
cidade de São Paulo
um palhaço triste
a distância.

e é o que há de mais importante
no mundo
inteirinho
(depois de você)