21.5.13

Sala 04


As palavras me esbofeteavam, uma a uma. Eu sorria. O que mais eu podia saber? Ainda dizendo: o que mais eu sabia fazer? Não era eu aquele muro de mulher, que se mantinha forte conforme as facadas que ia recebendo? (Visivelmente) inabalável. A paz tem gosto de perdão,  mas nossos olhares estão cheios de mágoa, e os sorrisos são de escárnio. Ainda nos consideramos bons? A última pétala caiu e ambos ainda somos monstros.
Você espera meu próximo tropeço para rir. E eu ando e tropeço, distraída, bêbada, livre, solta, louca. Por aí. Longe. Exatamente como no início. Somos cada vez mais os mesmos. Verdades deturpadas.
Deus cometeu um terrível engano, meu bem – aqueles sussurros jamais foram meus, não é? Aquela trilha sonora não era a do nosso filme. Interpretamos os papéis errados. Mas valeu. Valeu o êxtase. Valeram as mãos dadas. Valeram os porres. Não vou mentir,  valeram também as noites me revirando solitária e febril numa cama de solteira que um dia pensei ser grande demais. Valeu a experiência, o gozo, as manhãs. Meu senhor, e pensar que... não. Não foram em vão os segredos e nem os berros. O amor à cena. Eu amei teu personagem. Eu gravei teu coração (e adorei o som de cada uma de suas batidas).
Idealizações enganaram crianças.
Esse roteiro é de outra vida.
Este século, não.