eu sou uma mentirosa
e você foi um dissimulado
baby a gente foi
o erro perfeito
pra você sair por aí fingindo que eu surtei
eu posso mentir que te esqueci
eu minto que sou louca
tu se faz de são
eu forjo um glamour e tu força uma paz

quando a gente se esbarra na festa
e quase erra de novo, por um triz,
se acerta os olhares.
tu me enrola
eu sei do meu papel:
nunca nem te conheci.

Bem-te-vi-te-quis-te-perdi

Eu sentada no balcão do bar, ali
seca e barata, feito um martini -
a vi. 
Ela acendia um cigarro na parte de dentro
da linha amarela
debaixo do toldo
Tragava com jeito de quem
beija com paixão
e mata devagarzinho.
óculos de sol aviador na chuva
e um sorriso urbanóide de quem AMA essepê e coisa e tal
feito uma patricinha que detesta insetos e música pop
e usa muita droga
e fode, não faz amor
toma muito café e nunca dorme.
Eu a vi ali e pensei
que boa que você seria
beijando minha boca daqui 5 horas
andando de mãos dadas daqui 5 dias
vendo o sol nascer daqui 5 meses
trocando de calçada ao me ver passar
daqui
5
anos.

Antídoto

eu sou tão sexta-feira,
tu parece um domingo
de sol, sorvete e pedalinho.
eu sou tão efedrina
tu parece um comprimidinho de fluoxetina.
eu sou tão janeiro!
que você é um setembro:
a primavera chegando depois de um desgosto.

Manifesto

eu protesto!
pelos meus direitos básicos
eu protesto por moradia
eu ocupo a reitoria
eu desocupo a mente
eu protesto!
por cultura e educação
eu luto por
(in)sanidade básica
eu exijo meus direitos 
de ser completamente louca e infeliz
e satisfeita com isso.

para:nóia

Minto pra mim mesma
que eu vou dormir e
finjo que a vida
foi só um pesadelo.
Fecha os olhos que amanhã tem mais
horror
ainda é madrugada e falta muito
pro fim
(do filme)

Pedala até minha casa.
pelada na sacada
limpa e linda e à beira de um ataque de nervos
me dê a mão, vamos sair pra ver
esse Céu
é seu
se o final da tua tarde for meu.

eu como caviar
mas eu ando descalça
por aí
limpa de cigarro
aditivada
no bolso eu tenho 25 centavos
nenhum mapa
e aquele bilhete tu me escreveu de caneta bic azul num papel rasgado dizendo: "bom dia, amor, vamos lutar, amor, tô do seu lado
amor"
no dia oito de agosto.

meu bem,
já é verão e eu tô sozinha.

ilegal

pedi as contas, baby
vou ser clandestina da vida
não me responda nesse endereço
ignora esse envelope
deixa ele jogado
no tráfego
feito eu

o número de telefone não existe.

eu volto, amor, eu juro.
daqui três anos ou cinco ou sete
com um colar de diamantes pra enfeitar teu pescocinho
e umas cicatrizes a mais
aí  você vai me dizer:

que não tive pé no chão
mas eu andei por aí descalça!
que não lhe tive amor
mas eu escrevi poesias!
que eu nunca tive juízo
e é verdade
mas você agora tem 
um colar de diamantes.

cocaínetanol

talk dirty to me 
babe
diz que me ama
que me quer só pra si
fala que passou a noite em claro
que você quer minhas células bem
embaixo
das tuas unhas
me diz
me sussurra
uma surra de besteiras
com limão, com sal
se estica aí
"pra que esses olhos tão grandes?"
é pra caber mais lágrimas
num mar de
te quieros.

te quiero clandestino

eu quero você na veia
eu quero a gente insone
eu quero esses olhos tão grandes
vermelhos que é pra me ver melhor
eu quero suas células em mim
durante 7 anos
vivas ou mortas
eu quero você descosturando o edredom
arrancando os lençóis
eu quero o cheiro do nosso suor nesse colchão
pra que eu cheire e chore
ano que vem e no outro também

got life?

escolha a vida
incolor, inodora e insípida
escolha a vida
tome a decisão correta e não se atrase 
bata o ponto no trabalho
tome os remédios pela manhã e assoe o nariz e abotoe as calças compridas
leve um casaco, apague o cigarro
sorria
abotoe direito essas calças
escolha a vida e esfregue esses olhos vermelhos
corra ao posto de saúde mais próximo
velha vida dissolvida 50 mililitros de vida
na veia

sina

amor é sushi, paixão é yakissoba
amor é um cineminha
paixão é um final de semana inteiro trancados
e um quarto cheirando a cerveja e suor.
o amor me recompunha as forças
essa paixão, meu bem, 
me transformou numa puta pobre
velha 
e triste
com problemas no banco e olheiras enormes.

o amor, baby
é thc
aquela paixão foi heroína pura.

Eu não sou esse sorriso, não.

Eu acendo um cigarro e digo que vai ser o último

da vida,

da semana

do dia

mando um último tiro the last

shot – DIRETO NO PEITO!

you’re my only one baby nobody bobody but

you

E esse meu corpo coberto de marcas de amor e de morte

Eu não sou esse rostinho cheio de vida.

Nem esse cheirinho de baunilha e morangos

ou a garota que rebola num biquíni

coberta de tequila ao som de Skank

eu esmago uma lata com a mão

o batom borrado

os lábios cortados

E a pulsação. E na hora de deitar eu sinto o cérebro amortecido

E nem preciso lembrar que eu já nem sou mais uma criança.