24.8.11

POR MIM

Tantas vezes menti, roubei, trapaceei e até matei (em mente). Eu, tão dissimulada manipuladora vingativa! Movida pelo impulso das paixões e às vezes hedonista. Eu, que quero ser Deus e o diabo, que acho bela a melancolia, mas represento com tanta excelência (e cinismo) a felicidade. Logo eu! - que pratico a prostituição das palavras em troca de versos bonitos, logo a menina de sorriso alegre e coração promíscuo, a puta verbal. Por mim. Ela geme, se arde, se doa e se dói; e pede mais e implora e chora por tudo que eu possa lhe dar. Sofre - por mim! Que tanto jurei levianamente a eternidade. Ela precisa que eu a deseje e eu desejo. Quer que eu lhe sussurre (mentiras) e eu o faço. Se pede por carícias, beijos, corpo, pele eriçada, sangue, suor e licor, eu dou. Tão perversamente sustento o seu vício. Pra quê tanta crueldade, Céus? Por mim.

23.8.11

Coração também é carne, e a carne é fraca; meu espírito é como um corpo à parte – e dói.
Artrite na alma, anemia de afeto, amor não-correspondido é câncer [machuca se tira, machuca se fica] e quero morrer de overdose de você.
Essas palavras são minha medicina e sua dependência, você precisa disso tanto quanto eu. Te agrada. Saber que existe alguém que nunca te esquece e sempre te quer te agrada.
Você precisa de versos bonitos, frases [soltas, mas] que somente se prendam a ti; precisa ser descrita com lirismo e imortalizada com poesia.
E eu?
[pausa]
...preciso te lembrar!
Que o meu amor te cative, que minhas palavras te encantem e que minha dedicação te faça sorrir. Que pelo menos nesse momento em que você me lê [minha alma, emoções, tudo grafado frente aos teus olhos]: que eu te tenha, que eu te prenda, que me ames.
Que minha devoção me faça bela aos teus olhos – e quanta esperança boba; Deus!
Aí você me sente. Me entende. Me conhece. Me enxerga.
E por favor... – por favor! – só não permita que meu amor por ti caia no ostracismo.

21.8.11

Avulsa (falta de) sorte

Minhas mãos tremem e só consigo acender meu cigarro na terceira tentativa. Não é exatamente fácil soluçar e tragar, tragar, soluçar, chorar, engolir um nó de insegurança, sufocando minha garganta, lágrimas e fumaça inundando meus pulmões. Mas, oras, não fazem cinco dias que jurei pelos céus: "não fumo!" Não mais, não mais - assim prossigo quebrando as promessas que faço a mim mesma: sem embriaguez, sem entrega, sem doar pedaços meus para cada amor. Entre- tanto (grafado assim mesmo, separadamente) - entre tanto rancor, entre tanto sonho, entre tanta mentira; dá cá uma garrafa inteira de cachaça, dá cá teu coração inteirinho, por favor, dá cá a tua mão. Entretanto, tendo eu jurado nunca mais amar-te, nunca mais amar ninguém, encontro-me repleta desse sentimento sem destino, amando sem ter a quem dedicar meu amor da maneira devida. Lhe parece belo só por ser tão triste, e se Agosto torna-se mais desgostoso a cada ano, quem me garante que Setembro será bom, que não vão me deixar todos com a chegada da primavera? Sinto-me só, sinto-me um peso (e peço perdão todo o tempo), tristemente viva, quase em coma. Sinto-me uma pessoa horrorosa, e não me importaria em ir parar logo no inferno, o qual eu nem acredito. Quase em coma - quase; pois me engano, a mim e a todos, com sorrisos entusiasmados e abraços calorosos, obedecendo como um cordeiro àquilo que um dia ouvi chamarem "ditadura da felicidade". Já não quero freqüentar as aulas, a igreja, as festas, as reuniões em família e nem mesmo a sala de tevê. Já não tenho onze anos e meu desejo é vagar pelas praças, vagabundeando pelos botecos e acomodando-me, torta, em um meio-fio de qualquer rua (movimentada ou não, desde que não por conhecidos e menos ainda por aqueles a quem prezo). Não quero ver ninguém, exceto, talvez, a menina com aqueles adoráveis dentinhos tortos que ainda (repito: ainda) não me causou dano algum. Ela aquece um pouco o frio do inverno e atenua a dor do inferno, mas vai partir quando as flores desabrocharem. Eu sei. Todos se vão (se não sou a substituta, sou a substituída), já que tenho o valor de uma mapa do tesouro, útil até que se alcance o que realmente deseja. Me deixar por alguém mais bonita, mais inteligente, mais interessante, com pulsos limpos e sem seqüelas.
Você sabe. Pára de fingir que não! Sabe que sou errada, que sofro, que sou uma homicida platônica, uma suicída fracassada. Sabe que não sou guerreira. Sabe que tudo dói. Sabe que só não te falo isso porque a quero tão bem. Quero um café, um conhaque, qualquer bebida que seja morna; quero beleza (a tua, um pouco pra mim), liberdade, verdade... quero amor. Eu: que não fumo, que não bebo, que não sinto, que não crio, que não minto, que não dôo (de doar, de doer), que não gosto (de sabor, do verbo "gostar"), não escrevo, não escuto, não canto, não digo, não reclamo e nem me importo. Eu, que não sou parte do universo ou da vida, que sou tão desconexa e insípida, que nem existo fora desse sonho, pesadelo, estória ou jogo de marionetes entre Deus e o Diabo. Eu, que sou culpada por um pecado que nunca cometi; eu, que hei de morrer antes dos trinta (não de corpo, mas de-mente) com todas as ilusões que me preguei. Eu, que apanhei tão pouco dos outros e tanto de mim mesma! Eu, que me dei três chances, mas já estou na quinta, e nem me boto fé. Sei que a primeira chance foi, na verdade, a última. E que acabou antes mesmo do começo. Mas toda vez que morro, também ressuscito um pouquinho. Essa é minha (falta de) sorte.

16.8.11

Remédio pro desgosto, amor de Agosto.


Só me dê um pouco de amor, café e abraço – quentes, por favor, que faz frio! – nesse mês de Agosto, sempre cheio de pequenas desgraças. Segura a minha mão que treme tanto, os dedos entrelaçados, e esse é o remédio que há, melhor que simpatia, incenso ou rezar o terço. Logo Digo eu – logo eu! – com minhas crenças místicas, que não preciso de nada disso... só me faz bem ficar assim, gostando (e muito) de você. Não se assusta, tá? Não tem medo. É que eu sou assim: intensa, emocional e um pouquinho (!) desequilibrada. Me deixa falar de novo? Gosto de você, e quero gostar mais ainda (se você deixar), porque isso me ajuda. Me dá a mão, que eu já falei, é o remédio que há. E eu ainda te peço mais, passa em casa, deita aqui do meu lado, liga a televisão e a gente assiste aquele filme que eu te falei. Eu passo os dedos no seu cabelo, você sorri, a gente pega no sono.
Eu penso em você pra me distrair, mas sei que logo eu mal vou conseguir me distrair de pensar em você. Engraçado, né? É preciso um amor pra sobreviver a Agosto, mas acabaste de chegar. Fica. Fica Setembro, fica Outubro, até Junho do ano que vem e eu prometo que cuido de você. Fica muito tempo, sem data de validade, sem plano B. O plano B é você. Mas não pensa que é cobrança, tá? Não to te cobrando nada, nem esperando nada... só imaginando como seria bom.

9.8.11

SUPORTAREI

Confesso viver dizendo que não suportaria mais, mas também confesso saber que irei suportar mais uma (ou duas ou cem) troca, abandono, ciúmes, inveja, perda, decepção, lâmina na pele, noite sem sono, overdose de você, anemia de afeto, banho de lágrimas, porre engana-solidão; mais um quilômetro, uma milha, uma internação, outro acesso de loucura, visões, vozes que (infelizmente) não são a sua, sexo sem amor, amor sem sexo, tardes entediantes de domingo, livros em falta na biblioteca, maço de cigarros vazio, geladeira vazia, carteira vazia, quarto vazio, garrafa vazia, coração vazio e um imenso vazio existencial. Não nos esqueçamos dos porquês, das causas, das conseqüências, das falsas verdades (que não chegam a ser mentiras) e das meias-verdades (que também não conseguem ser verdade). Sei que suportaria morrer de amor mais uma vez, mais tapas na cara, mais quedas, mais tentativas frustradas de fazer algo certo, mais uma vez ser desprezada, humilhada, rejeitada e ainda assim conseguiria me reerguer. Mais um dia, um mês, um ano, dez, cinqüenta. Não me surpreenderia se pensasse em morte mais algumas vezes nesse mês infernal que é agosto, não me surpreenderia se tentasse, e sei que suportaria (vergonhosamente) a falha de continuar viva - outra vez.

6.8.11

Por  sua causa eu perco

a cabeça
meu  tempo e a noção dele 
as lágrimas
a razão
o sentido das palavras que eu digo
o sono e a vontade de acordar
a vontade de ler
de estudar
a coragem
e o medo, também
eu perco meus anos
meus dias
meus neurônios

...só quero mesmo é me perder em você.
"Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê."



Ela gosta da embriaguez das bebidas mais fortes, da encrenca, dos vagabundos por excelência, de uma liberdade quase libertina; gosta principalmente das entrelinhas, e gosta disso tudo mais que de mim... e o que eu mais gosto é ela. Menina, se você gosta tanto do subentendido, eu vou pegar aquela folha de caderno que há anos sobre você eu tanto escrevi e rabisquei, e entre duas linhas, olha: gosto tanto de você! Não passou, aquela eternidade que eu te jurei tá demorando tanto pra acabar! Se eu soubesse quebrar minha promessa com a facilidade que você me quebrou - coração, sonhos, ilusões, tudo de uma vez e com a intensidade de um fim-de-mundo. Quebrou até meus argumentos pra dizer "não, fica..."; mesmo que fosse fraquinho, mesmo com essas reticências no fim.
Ela é fria e até  um pouquinho cruel, talvez sem querer (quem sabe?). E talvez, também sem querer que ela me lê assim, como se eu fosse palavras simples. Minha alma escrita na palma de uma mãozinha pequena. Sem se arrepender das mentiras que me disse, do amor que (se tu me tinhas, era pouco e) se acabou; sem se lamentar do que era pra ter sido e não foi... mas por favor, eu lhe peço, toma aqui aquela velha folha do caderno e responde entre suas linhas: você tem saudade?

4.8.11

DESABAFO


Outra que também parece que nunca esqueceu seu amor do passado...


"Do passado". Não precisei piscar os olhos para estar no passado. Estou quatro anos atrasada, me sento exatamente onde estou sentada agora e meus olhos se enchem de lágrimas. Eu não deveria ter faltado à aula. Seu fantasma, ele deveria ter ido embora, o tempo o devia ter apagado... mas ele permanece aqui, mais sólido do que jamais esteve em toda a minha vida. Conheço os seu vocabulário e as suas mentiras mais freqüentes, e você não conhece as cicatrizes que me causou. Quatro anos atrás e as mesmas lágrimas vêm à tona. Lágrimas recicladas, talvez, como todo o meu corpo, meus pensamentos, minhas memórias de lugares que nunca existiram – um abraço infinito na periferia e um muro pichado como o meu caderno de pré-adolescente sensível, eu e minha saia colegial que agora mal cobre um quarto das minhas coxas. Eu era tão pequena... 

...se essa mentira é o sonho de alguém, se essa mentira faz alguém levantar todos os dias e sorrir...

Você foi  não!, você é o maior dos meus erros, e o erro que me fez ser quem eu sou. Um erro do qual, por mais que eu tentasse, eu jamais consegui me arrepender. É a saudade que nunca passa, e quando passa... quando passa, por Deus, eu a busco de volta! É melhor mesmo não desistir nunca; é melhor, também, não perder tempo lutando. Eu queria era viajar no cronos... e se eu estivesse exatamente aqui, onde eu estou agora, os olhos cheios de lágrimas, eu teria pedido: "fica". E eu nunca teria descoberto, nunca teria te descoberto. E talvez  só talvez... –, tão naturalmente quanto lembrar de você agora, eu teria me esquecido. 

Mas vai saber, né? Você já disse, eu já disse, nós sabemos... toda vez que nos separamos em uma encruzilhada qualquer, eu acabo pegando o retorno.

3.8.11

AMOR, SPERANZA, FIDE.

Tirou da bolsa o maço de cigarros com sua advertência favorita do Ministério da Saúde - morte. Tinha aquilo para si como um pequeno tesouro, igual a quando colecionava cards na infância e tirava um daqueles platinados brilhantes, ou como o moço do livro que colecionava cartas de coringas, ou a mãe que adorava receber de presente diferentes fuscas em miniatura. Morte era a sua favorita pelo simples fato de que era para todos: brancos, negros, pardos, amarelos, gordos, magros, ricos, pobres, políticos, professores, artistas, fumantes ou não. Todos morreriam. Às suas costas, a catedral matriz; à sua frente, a simplória barraquinha hippie, repleta de filtros de sonhos que Catarina tanto desejava. Não tinha um tostão! Não tinha emprego, casa própria, motocicleta, idade o suficiente, amor que lhe alimentasse ou tarefa que a distraísse naquela tarde nublada; então observava os brincos de penas, namorava os aneis de pedras semi-preciosas, jogava conversa fora com os velhinhos de cabeça branca que jogavam milho para as pombas no chafariz de água suja, se equilibrava andando em cima de muretinhas e espantava os passarinhos que ciscavam em paz na grama. Emprestou, com simpatia, o isqueiro para o moto-taxista, sorriu para as crianças que brincavam no parque, comprou um picolé. Mas que grande merda estava aquele mundo! As pessoas faziam o sinal da cruz para a igreja e ela imitava, sem saber porquê, enquanto adentrava os portões de mosaico coloridos. Rezava sem saber rezar, chorava porque gostava de chorar e olhava os fiéis ajoelhados que, fora daquele teto, eram pecadores de coração sujo tentando lavar a alma com o sangue imaginário de um Cristo de mármore sobre o altar.
Queria que hovesse uma cigana sentada aos pés da escadaria, que ela lesse sua mão e dissesse o óbvio: menina, você vai morrer. Quem não vai? Que inventasse que o amor da vida dela seria encontrado quando Júpiter e Marte se alinhassem com a Estrela D'alva num ângulo de setenta e três graus, qualquer coisa que a menina reconhecesse como mentira mas pudesse colocar numa história. Queria que lessem para ela as cartas de tarô, tirar a morte como no verso do maço de cigarros, tirar a roda da fortuna pra que a vida mudasse, tanto fazia, na verdade! O estado estava decrépito, a democracia nunca existira, nem o comunismo, nem o cristianismo judaísmo islamismo hinduísmo budismo satanismo ou paganismo algum, porque todo mundo é hipócrita desde sempre e pronto. Suspirou. Estava sendo uma negativista, mas o que fazer? Sua lua decerto estava na casa errada, ou algum demônio a assombrava, ou - para os céticos - era só acaso. A lei estava torta, as costas estavam tortas, a chuva pingava torta e seu coração estava quebrado (mas o coração de quem não estava?). Pediu amor, pediu esperança, pediu fé pra crer que as coisas melhorariam. Pediu liberdade, pediu beleza, verdade e pediu amor outra vez, porque sem amor não dá pra fazer nada direito.

2.8.11

VALENTINA


Eu ainda era uma criança inocente quando a conheci. Não mais do que cinco meses  seriam isso? – mais velha que eu, Valentina também não era nenhuma mulher madura. Mas uma coisa eu posso afirmar, também não era nenhuma menina ingênua. Foi ela quem me ensinou a pular o muro da escola e fugir correndo pro parque, e talvez seja por isso que eu nunca soube direito as inequações matemáticas e suas funções, ou o que quer que isso seja. A gente deitava na grama e olhava o céu, e Valen roubava todos os dias os cigarros da mãe – nunca mais que dois, porque ela não podia perceber. Ela os acendia com o isqueiro cor-de-rosa e eu só ficava olhando a fumaça subir ao céu. De vez em quando os nossos dedos ficavam próximos o suficiente para que se tocassem, roçando na grama, e nesses momentos nos dávamos as mãos. Me entendam, por favor, eu só tinha onze anos e jamais veria aquilo com malícia. 
– Flora, florzinha, flor... – ela cantarolava com aquela voz infantil que nunca mais mudou, e eu sorria e sorria. Pegava a gaita e soprava, sem jeito, sem saber tocar, Valentina pedia: – toca aquela, sobre ladrilhar a rua com pedrinhas de brilhantes! – e depois ria por saber que eu não conhecia uma nota sequer. Com seus doze anos de idade, ela tossia eu batia nas costas dela.
Valentina me ensinou a fumar. Me ensinou a mentir. Me ensinou a fazer bem as unhas, também, e me ensinou alguns palavrões em italiano que ela sempre ouvia a vó dizer. Naquele mesmo parque, entre uma tragada e outra, Valentina me ensinou a beijar.
– Mas como é que você vai sair com o Luca sem saber, Flor? Vem cá, faz assim – os dedinhos suados no meu rosto, ela roçou os lábios mornos nos meus, sussurrando – me acompanha...
Ah, Valentina, se você soubesse que aquilo significou tudo pra mim e nada pra você! Valen, Ti-na, Va-len-tina, eu cantarolava, e ela, Flora, florzinha, minha flor, meu amor. Em nenhum dos nossos beijos, nenhuma das nossas noites, em nenhum dos seus toques eu encontrei novamente aquele dia.  Mas naquele momento eu não sabia. Como poderia saber? Tudo ocorreu direitinho com Luca e nós tivemos aquele namoro pré-adolescente de duas semanas que me pareceu quase infinito. É claro que eu preferia quando a gente brincava de boneca no quintal da casa dela, e gostava muito mais de fazer trancinhas no cabelo de minha melhor amiga que de andar de mãos dadas com meu namoradinho no pátio. Mas eu não sabia. Eu ainda era aquela criança inocente demais pra saber... e Valentina? Valentina não era uma mulher madura, mas também nenhuma menina ingênua.