8.12.11

Como chuva de verão.

Talvez fossem os ventos do sul, o calor inebriante do verão, e era natural que nos sentássemos e fumássemos e bebêssemos muito e fingíssemos ser muito felizes, obrigado – e, pelo menos naquele momento, éramos. Tão jovens, tudo parecia tão vivo. E era natural que discutíssemos com simplicidade os pormenores transcendentes e transcendentais, que falássemos tão levianamente do amor, que as palavras dessem voltas ao redor dele e, por fim, retornassem. Veja bem, é muito importante que seja dito que, porque somos jovens, estamos muito fragilizados por mudanças e corações partidos. É a eterna história do vai-passar-mas-não-sei-quando, do liga-pra-ela ou do não-atende esse telefone. Passamos anos dourados enxergando neles tempestades cinzentas e turbulentas. A gente sentava no chão, abria mais uma garrafa, alguém dizia alguma coisa que leu num livro, ouviu numa música, viu num filme e vai levar pra vida toda, “me disseram que o amor era um plágio descarado da dor”; faz-se um silêncio respeitoso de milésimos, se esmaga a ponta do cigarro no chão, vezenquando um infeliz solta um “nunca mais” – mas ele está sorrindo. Todos estamos. Havia quem dissesse que não agüentava mais aquela porra toda, me arranja outro maço, o meu acabou, acabou a garrafa, acabou o dinheiro, o amor ficou e eu aqui carregando nas costas sozinho. Já-tentei-de-tudo versus vai-passar. Tão jovens, tão vivos. Doía tanto e, no entanto sorriam. E meus olhos se perdiam no horizontes de ruas vazias enquanto eu digeria imagens, significados, gostos, lembranças, sentidos, pensamentos, e tudo aquilo congestionado ali dentro. Era verão e eu tinha muito tempo livre, e não era surpresa que eu matasse esse tempo devagarzinho, junto dos monstros e anjos dentro de mim e só restasse. Ponto.  Me restasse. Que alguém segurasse a minha mão e dissesse “vem. esquece.” Que me dissesse pra beber mais, me estendesse outro cigarro ou me sorrisse, e então me ganharia por segundos inteiros. Me levantei e corri para a terra, os pés descalços. Talvez fossem os ventos do sul ou o calor inebriante. Não era raro que acontecessem, e se repetiriam muitas vezes ainda. E mesmo assim a gente ainda corre pra baixo dela toda vez: como chuva de verão.

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