Não precisa cavar muito fundo pra ver que foi desperto aquele
lado antes adormecido. Frágil, delicado, assustado. A louca, corajosa, inconseqüente,
ainda está lá, em algum lugar. Mas foi desconstruída a fortaleza holográfica
que eu me esforcei tanto pra projetar. E o pior é que eu não ligo tanto quanto
deveria. Me sento na janela pra olhar as estrelas, acender um cigarro, ouvir
aquela música. Eu sinto o medo. Agora eu enxergo a neblina encobrindo o futuro.
Percorrem minhas veias, vertentes de riso, de lágrimas, de sangue quente que
tanto deixei escorrer. A auto-destruição, obviamente, sempre atrai. Mas agora,
mesmo assim, desejando tanto algo que me faça bem. Me permito sentir a saudade
e me permito expelir isso que pulsa forte a semana inteira. Às vezes, todas as
noites são noites solitárias de domingo. E tanto nos finais de tarde quentes
quanto nos envoltos pelo vento gelado, eu queria que você estivesse aqui. Mesmo
que pra não fazer nada, um café, uma cerveja, música, cigarros, filmes e tudo
isso que eu poderia fazer sozinha.
E por acaso foi encontrada escancarada a desordem que eu sou,
e é verdade que eu ainda me envergonho do caos contido que ainda me resta, das
cicatrizes que ficaram. É verdade que existem os tremores e os dramas e as lágrimas
derramadas sem sentido, os vícios e manias e rascunhos escondidos, as pequenas
tempestades cinematográficas, as angústias infundadas. Mas, meu bem, também é
verdade que há essa paz que vem me vindo aos poucos e com ímpeto, que eu sorrio
sozinha ao me lembrar de despertares, e que por causa disso eu venho me
desapegando de tanta insegurança. Eu só preciso de um abraço forte. E por
enquanto, eu juro, está tudo bem.
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