13.11.14

vou morrer de saudade

houve um tempo em que se fazia
samba e amor
até mais tarde
e a gente amanhecia já
sem saber direito o dia
dançando rodopiando com os pés descalços
as solas cascudas
o sorriso cansado e satisfeito estampado
na boca no olhar

houve um tempo em que a gente dormia
num amontoado de meninas
só quando já fazia sol
de mão dada a luz invadindo a cortina
e nosso cansaço vinha só da alegria
da farra a gente tinha garra
pra enfrentar setenta e duas horas de
risada
e ainda sonolenta
no meio do silêncio
o som do tambor ainda ecoava
dentro da nossa cabeça

houve um tempo em que a gente fingia
que ninguém tinha medo
não precisava!
que a gente achava era graça
de tudo quanto era horror de tudo quanto era desgraça
a gente se embebedava
andando destemida de madrugada
se contavam moedas pra escolher
a cachaça mais barata

houve um tempo
em que eu sabia de cor
nossos cheiros nossas manias
tua marca favorita de cigarro
as colheres de açúcar no café
e se falava muito de futuro se falava bastante
de sonho
e se confessavam fantasias
e se trocavam segredos
e a cidade era desbravada pela nossa sede

mas hoje em dia
ah! hoje em dia só é tempo
de receio de ressaca
de mágoa de manha
de ter muito sono
de manhã.

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