Como eu dizia: limpa,
linda, quase casta.
E como saber que de um
dia pro outro a própria rotina completaria seu ciclo?
Sangue, lágrima e alma
implodindo diariamente ali. Dentro de mim.
Ninguém nota. Deixei de
notar.
A confusão sempre
retorna à sua casa, como um filho pródigo ou um cão fiel. Entra, pode entrar. Eu
abro os braços. Os pulsos delgados. O espírito dilatado. O corpo, comprimido.
Mutilada. De todas as maneiras que consigo pensar.
Você já sentiu vontade
de mergulhar o rosto em óleo quente?
Meu amor. Amor, escuta.
Eu vivo sem você. Os primeiros três meses, trancada num quarto e à base de
cigarros, amato e risperdal. Mas vivo. Um dia eu tenho que encarar o sol. Eu só
preciso avisar você que a nuvem preta vem vindo. Eu preciso saber se você vai
suportar.
No espelho do banheiro,
eu lavo o rosto,
(no espelho do banheiro
eu vejo) o rosto da decadência.
Que lástima, deus. Que
lástima.
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