Quero colocar um colchão no chão
do novo apartamento. Vazio. Minha mente,
vazia. Paredes nuas. Corpos nus. Almas despidas. Quero suspirar e sussurrar,
assim, em sorrisos entrecortados e à beira das lágrimas: “te amo”. O sol do fim
de tarde vindo se despedir pela janela escancarada, meu coração escancarado,
deitada de braços abertos... no céu, um início de lua. Transar sem pensar em
nada.
Sempre choro quando você grita.
Jamais me canso dos seus dedos correndo minhas costas. Dos seus beijos nas
minhas costas. Amo e detesto quando é você quem chora – tão íntimo, tão frágil,
tão meu, e eu ali, tão sua. E há o meu sufoco quando você parte. O vazio dos
primeiros três minutos sem você. O desespero em pensar que isso pode ser real.
Me recordo das fotografias que
registrei mentalmente: você, ali, deitado ao meu lado. O meio sorriso, os
cabelos no rosto, e eu vou me lembrar disso daqui a vinte anos. Você não acredita.
Gosto da sua pele pressionando a
minha em noites geladas, ou de sentir seu carinho até cair no sono quando faz
calor. Quero colocar uma jardineira no peitoral da janela, amor. E que se foda
a lei. Vou enchê-la de margaridas! E adotar uma gata que esquente nossos pés no
inverno.
Ando tomando os remédios direito
e prometo jogar fora aquela lâmina (e todas as outras). Prometo comer e prometo
me levantar e prometo viver. Estou lendo os livros que você me deu. Voltei a
dormir. Procuro paz.
Procura também sua paz, que eu
quero colocar um colchão no chão do apartamento novo.
Abrir uma cerveja e transar de
cabeça vazia.
Beijar sua boca. Sentir sua boca
nas minhas costas. Nos meus ombros.
Sentir seu carinho até pegar no
sono.
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