26.2.12

Cinzas de carnaval

O café já esfriava e dois cigarros queimavam sozinhos, abandonados no cinzeiro. Havia o cheiro da chuva, do suor, a fumaça, o barulho do vento, os múrmuros e os gemidos, a paranóia que pairava. Mas a faxina será feita na segunda, serão trocados os lençóis, jogadas fora as cinzas, dobradas e guardadas as roupas, lavadas as canecas. E os pensamentos ficariam. Um pensamento meio assim, afoito, desesperado que me entala na garganta quando cogito pôr pra fora. E é preciso que se mastigue bem as lembranças dos momentos pra que elas não me fiquem presas também e se repetindo. É um tal de ter tanto pra falar, mas não me parecer que haja interesse algum em ouvir. Então eu sorria. E suspirava. E me aconchegava em uns braços, repetindo mentalmente tudo o que há pra ser dito, desejosa e ao mesmo tempo receosa de algo meio telepático. Que pudessem ouvir que eu geralmente não sou dessas meninas que andam de mãos dadas, que como-é-bom-acordar-desse-jeito, que eu sou vulnerável, insegura, maluca, medrosa, inconseqüente, impulsiva, ou mesmo que às vezes eu me sinto tão bem que assusta e eu aí sinto vontade de fugir. E querer escutar "não, fica". 
Mas nada disso importa agora. A fumaça sai pela janela. As sensações são boas, e tudo bem guardá-las dentro de mim agora. Que tudo se exploda em uma respiração ofegante, olhos e lábios vertentes de riso e lágrima. O carnaval vira cinza no chão... mas a faxina será feita na segunda.

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