9.2.12

Pedaço de Agosto

Sinto Agosto se aproximar. Em dias quentes assim, ele caminha em passos curtos e rápidos, e eu posso me observar sentada na calçada, engasgando com as lágrimas e a fumaça. Posso ver as noites de sexta trancafiada em casa, oscilando entre considerar as giletes  e uma auto-piedade patética. Ah, sim, Agosto. Os - não-bastam-trinta-mas-trinta-e-um-dias de desgosto, tremor, medicação dobrada, morcegos no estômago e vinho barato, as falsas promessas de "estarei aqui", pensamentos demais e oficina do diabo mesmo assim. Eu sinto na ponta da língua o sabor e sinto as cicatrizes avisando como quando avisam se vai chover. 
É um daqueles dias de presságio em que meu reflexo na vitrine fala: vou ser abandonada e não vou conseguir dormir e vou comer demais e vomitar demais e fumar demais, e todos os dias vou olhar o calendário, rezando para que o cachorro louco vá embora - mas ele insiste em ficar um pouquinho mais.
E eu procuro refúgio em conversas jogadas fora com desconhecidos, finais de tardes vadios e na lua cheia que já não me parece tão mais linda e já não vem mais me dizer do amor. Escrevo e a feiura não sai. As palavras estão entaladas nas veias cavas. Mas ainda é verão. O suor escorre, o café não esfria nunca, o cigarro apaga e eu ainda sou tão jovem. Tantos meses e tanta dor a serem ignorados. É só outro presságio. Ainda há tempo para ser forte.

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