7.9.11

BOSQUE DOS JASMINEIROS

Aqui costumava ser um bosque, antes que asfaltassem a lagoa e derrubassem os jasmineiros da clareira para construir o condomínio ironicamente chamado “Bosque dos Jasmins”.  Agora só me resta essa varanda, essa roseira mal-podada com alguns botões de flores murchos e a mesa de piquenique, onde escrevo pondo tanta força na caneta que a lateral da minha mão direita já está manchada de tinta preta. Confesso, vergonhosamente, que deixo as cinzas e as bitucas dos cigarros caírem ao chão, talvez matando mais um pouco daquela terra pobre e já doente. Sou vencida nessa Terra pobre e doente. Mas escrevo. Tiro as palavras de minhas vísceras enfraquecidas, da minha alma rasgada, da minha cabeça turbulenta. Não sinto a menor necessidade de viver do lado de fora de mim. Em Maio, me lembro bem, as amoreiras estavam vazias, e eu, cheia de esperanças de que ele voltaria dentro de alguns anos, ou mesmo neste verão, no próximo outono, talvez. É o mês da independência (quanto tempo eu não esperei para que Setembro chegasse!), mas me sinto tão dependente quanto estive no último verão: das garrafas de cerveja, da nicotina e das palavras de amores antigos se fazendo novos. Não há um jasmim sequer por essas ruas – eu, pelo menos, nunca mais vi nenhum – e desde que se foi o último jasmineiro, nunca mais me veio visitar um beija-flor no quintal. Mas os pardais vivem invadindo a minha cozinha por entre as grades da janela, e vezenquando uma borboleta adentra meu quarto, ou me deparo com um botão de rosa que deu certo. Esse pouco me basta. O calor que se fez durante todo o inverno se foi, e é engraçado que justo a Primavera traga consigo essas chuvas finas. Posso fazer de conta que são como as chuvas inglesas e que sou a rainha Victoria, valsando pelos jardins do Palácio de Buckingham. Posso continuar preparando meus chás de menta e chocolate sempre que os ponteiros marcam às cinco da tarde e o céu começa a ficar cor-de-rosa, e, quando escurecer, debruçar-me em minha janela e ter longas conversas com a Estrela D’Alva (que, todos sabem, é na verdade um planeta). Na [minha ir]realidade, não há muito que eu não possa fazer. Ainda espero que as fadas voltem e continuo esperando que os cogumelos cresçam no quintal. Continuo, principalmente, esperando pela sua ligação toda noite, para ouvir a sua voz de sorriso e te imaginar rindo do outro lado da linha. Espero. E ainda que asfaltassem todo o oceano, e ainda que já não mais houverem clareiras repletas de jasmineiros, e ainda se os pomares nunca mais se carregarem de amoras à cada primavera... ainda assim, esperarei por você, para que se sente à minha frente, na mesa de piquenique, e então partilharemos nossos vícios   um por um juntos (sendo que ainda és um dos maiores de todos).

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