9.9.11

"CAMPOS DE MORANGO PARA SEMPRE..."

Nem a selva de pedra, nem a seca e nem as pragas jamais atingiram aqueles campos de morango. A irrealidade é eterna, pensei. Ela não acaba nunca. A única coisa que me lembrava constantemente do mundo real era aquela tosse irritante, um aviso de que meus pulmões e minhas vísceras apodreceriam. Tudo bem! A fantasia era permanente. Eu podia ser Satine, o diamante cintilante, sôfrega de tuberculose, o grande mal da revolução boêmia. Isso explicaria a minha tosse e eu nem sequer precisava abrir os olhos. Pereceria coberta por uma névoa de melancolia romântica. E os morangos continuariam a frutificar.
Veja bem, aqui não existem guerras, já que não há gente. As fadas nunca foram embora e a nascente continua a fluir, incessantemente e alimentando essa mesma terra há mais de mil anos. Aqui as flores não murcham. As borboletas não morrem, os pardais não transmitem doença. A minha insanidade é perfeita. É como se a loucura me tivesse presenteado com um dom de divindade particular. Esse era meu mundo. Claro que há tristeza. Ninguém quer uma garota louca. Esse mundo não apagou as cicatrizes e nem aplacou a solidão. Existimos: eu, as coisas que eu leio, as coisas que eu escrevo (nesta ordem) e agora aqueles campos de morango. Mas o que eu quero dizer é que havia ali apenas espírito, e o físico já não mais importava. Não era preciso comer, vestir; ali se respirava por puro capricho e desejo de apreciar o ar limpo, e se podia chorar à vontade caso desejássemos lavar a alma. O corpo, a carne, o sangue, os punhos cortados se foram. Viver é mais fácil de olhos fechados. E, estando consciente de que tudo isso não passa de uma imaginação minha (o que não quer dizer que não seja verdadeiro), mergulho e abraço a bem-vinda maluquez por mais alguns minutos, antes que os raios do Sol legítimo me obriguem a ir embora.

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