1.2.15

pra não dizer que eu nunca tive um grande amor eu tive sim eu tive muitos. queria um amor vindo direto de uma tela de cinema e pra não dizer que vivi um apenas eu vivenciei algumas dessas tragédias. minha primeira paixão! ah essa aí foi deliciosamente triste. não consigo dormir. "conte as bençãos" minha família me ensinou desde muito cedo, então é o que farei. eu era aquela menininha muito raivosa e não tão bonita, mas que fode bem e se permite ser levada pra casa. acendia um cigarro no outro. teve aquela noite em que sequei uma garrafa de vinho ouvindo músicas tristes no escuro. eu chorava pelada no chão do banheiro. o rímel borrado debaixo da chuva em paradas de ônibus, mochila nas costas, longas viagens com passagem só de ida. eu me lembro perfeitamente dos nomes de todas elas e de cada primeiro beijo. e como eu me contorço até hoje pensando nisso antes de dormir. com a intensidade de um veneno eu me apaixono me apaixonei me apaixonava. era como uma criança que caía, quebrava a perna e achava que nunca mais poderia correr. não faz muito tempo estávamos nós duas: nuas, sorrindo, uma ao lado da outra. era um momento tão maravilhoso e eu estava absurdamente triste, eu te disse: "você vai me deixar". ah mas todas vocês dizem a mesma coisa: não eu jamais a deixaria por uma besteira tão pequena como essa. mas a tristeza não é pequena. a tragédia é algo imenso. essa cena se tornou tão repetitiva quanto os "felizes para sempre" em contos de fadas. nunca tive outra saída a não ser romantizar aquilo que me feria. aprendi desde bem nova a engolir o choro se eu pretendesse me apaixonar, mas ele sempre escapa. só se pode se dar o direito de ser triste quando se é muito bonita. quando a gente é feia a gente tem que ser forte. não há amor que suporte os lamentos de mulheres como nós. cacete, ainda não consigo dormir. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário