7.8.12

Estranhamente natural

Fervo a água, côo o café, tiro do bule e despejo na xícara. Princípio do prazer, teorias freudianas, te alucino, o tempo passa, mas não vejo: você chegar ou ele passar. Mas passou, e o café ficou gelado. Parece que os meses correram, que adiantaram o relógio, que alguém arrancou as folhas do calendário. Tão rápido que eu não tive tempo de fugir. Tão forte que eu não pude parar. Ou talvez eu apenas não quis. 
Eu fechei os olhos, respirei fundo, segurei sua mão, corri o risco e pensei: "dessa vez vai ser assim." E quando olhei outra vez, o mundo era novo. Eu era outra.
Você derrubou, sem saber, muralha por muralha, e confundindo tudo aquilo que um dia eu imaginei ser minha força. Agindo às cegas, eu te queria perto e nem sabia o porquê. Me sentava ao seu lado e sorria, e eu - sempre! - falava sem parar. Você escutava, ou fingia escutar, e riu de mim ao lembrar como eu vim: perdida, inconseqüente, torta.
Me vinha o medo do sufoco do afeto. Queria fugir e chegava mais perto. E quase chorava, senhor-por-que, isso não é meu, isso não sou eu: mas era. Se você me beijava, então eu aos poucos desconstruía minhas estruturas, e de repente era possível invadir a tão antiga fortaleza holográfica que eu criei. Frágil. Quebrável. Deus, eu era só humana.
(Deus, eu não queria ser humana!)
(E de repente eu quis, quanto mais te quis por perto, e sem saber porquê.)
Eu devia saber desde o começo: estava quando eu quis me despedir direito. Estava nos poemas que eu te mostrei, nas conversas jogadas fora de madrugada e na saudade esquisita que eu senti. Definitivamente, estava quando eu te encontrei de novo. Estava quando você se deitou perto de mim e eu, por algum impulso desconhecido, quis que você me abraçasse. Estava em como tudo me pareceu estranhamente natural.
Não seria mais necessário fingir.
Você me salvou de mim mesma.

Um comentário:

  1. Anônimo7.8.12

    criando um estranho carinho por esse texto...

    ResponderExcluir