9.8.12

Manifestação

Está de volta. Retornam-me aquelas velhas palavras enquanto eu aguardo o momento em que a dor me anestesie: "você é uma pessoa repelente; forte, mas repelente". Um soluço. "Eu fui embora porque não pude suportar sua tristeza". O sufoco do rosto enfiado no travesseiro. A afogada.
São os pensamentos que me dizem o que fazer e como me sentir. Eles não têm voz, mas dizem. Parecem meus, mas não são. Sussurram que eu sei melhor ser sozinha. Que é mais fácil ser triste. Que a ferida amortece. Que a loucura é a solução.
Eu não quero desistir, por isso me agarro a um restinho de lucidez: um sorriso, um bom dia, um café. Quero gritar por ajuda, mas a voz não sai. Eu só faço chorar. Não seria justo pedir. Quem merece carregar nas costas o fardo de tanta perturbação que não as suas próprias? A vítima. E eu procuro a paz onde sei que há: desabo minhas angústias com palavras trêmulas no papel. Volta e meia me jogo em abraços desesperados. Meus tormentos maldizem meus sentidos, mas apenas espero que passem.
Me habituei de tal forma a conviver com meus demônios que o esforço de exorcizá-los me parece desnecessário.
Ou somente inútil.

Um comentário:

  1. Só que esses malditos inquilinos ainda existem... ainda existirão

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