25.5.11

EPITÁFIO

Morrerei, pensou Ritinha, Maria Rita ou Ritalina (porque devia ser meio louca, era o que diziam). Decerto que morrerei, e que legado vou deixar pras gerações posteriores se nem geração eu tenho, meu Deus? Sou só parte de uma parte da humanidade, pedacinho sem feitos, que não pegou em armas, que não levantou novas políticas, novas ideologias, que não derrubou a divisa entre as religiões, que não estourou nenhuma revolução. Mas eu tenho fé, essa fé até meio imbecil, pensava Rita, fé de que o mundo só vai melhorando pelo caminho. A escravidão (pelo menos legalmente, mas palavras no papel já não querem dizer algo?) já foi abolida, se acabaram os feudos e os barracos nas favelas têm TV e geladeiras. Já não se encontram cadáveres de mortos de fome nos bulevares da França, a maioria das pessoas já vê a guerra como algo fora de moda... Ah, sim, Maria Rita era dona de um otimismo um tanto estúpido, mas com um quê de verdadeiro. 
E os Beatles, Deus! Os Beatles nunca saíram de moda e estão mais fortes do que nunca: all you need is love, love is all you need. Porque a verdadeira revolução se faz com Amor, não faz? Amor, assim mesmo, com inicial maíuscula, como Deus com letra maiúscula, porque Amor era um deus, não era? E ela era Rita, a adorável Rita (da canção), a louca Ritalina que um dia morreria - pois todos nós não vamos morrer? pensava - enquanto o Amor revolucionaria o mundo, como veio fazendo desde o começo dos tempos. Antes mesmo que surgisse o primeiro ser humano, já começava a Revolução. E morreria Rita, a adorável, a santa, a louca, de carne e osso e alma e coração e fé e otimismo bobo. Morreria, e deixaria como legado para gerações posteriores nada mais, nada menos que uma ossada em decomposição e uma lápide de mármore com o seguinte epitáfio:
"Maria Rita, Ritinha ou Ritalina (porque devia ser meio louca, era o que diziam) nasceu, cresceu, viveu e morreu de amores."

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