1.5.11

PODE ESPERAR, NÉ?

Hoje bateu saudade. Daquelas, de marejar os olhos da gente de lágrimas. Eu passei lá onde você me viu chorar, me abraçou e a gente falou dos nossos medos. Passei bem do lado daquela ruazinha onde a gente andou de mãos dadas. É estranho, essa coisa de andar de mãos dadas. Meio íntimo demais pra uma pessoa como eu. Aquele nome em uma placa. Difícil pra mim, não ficar lembrando. Lembro de quando você perguntou se a gente tava junto, e eu nem soube responder. Pelo menos, agora eu sei a resposta...
E eu fico imaginando: será que quando você fica muito machucado, você pensa que eu nunca te deixaria assim? Fico imaginando se você ainda pensa em mim, às vezes; pensando se aquelas coisas que você me disse ainda valem alguma coisa. Pensando se você ainda sente o mesmo – pensando se eu ainda sinto o mesmo, pensando se foi tudo de verdade ou só confundimos as coisas. Saudade. Do gosto de cerveja, do gosto de cigarro, do gosto de você. Gosto de sabor ou gosto de gostar? Vai saber...
Queria que você aparecesse aqui em casa, não tocasse a campainha; só me ligasse e dissesse: “ei, vai na varanda e dá uma olhada na sua calçada!” Queria descer os degraus da escada de dois em dois (como eu confesso que eu fazia sempre que você chegava) e te abraçar na frente do portão. Os vizinhos olhariam pra nós e pensariam “ai, o coração dessa menina não se aquieta” – e não se aquieta, mesmo. Hoje deu vontade de te dar um abraço, te fazer sorrir o sorriso que você detesta, e não precisa de beijo, não (mas se você quisesse, tudo bem, e nem precisava pedir desculpas). Eu me contentaria só em te ver.
Hoje eu queria que você ligasse. Número desconhecido, só pra eu não saber quem era e ter coragem de atender, porque hoje eu não me arrisco a ouvir a voz de ninguém que já tenha machucado meu coração. Amor, eu to confusa. Quase tão confusa como te chamar assim. Eu nem sei mais o que eu quero, se eu te quero, como eu quero. Eu sei do que eu preciso: ficar um pouco sozinha; preciso de um tempo pra mim: um tempo sem expectativas, sem mãos dadas, sem chorar, sem suspiros antes de dormir. Preciso é de uma cerveja, fumar daquele Marlboro vermelho (mas eu mesma compro o meu maço, obrigada), rabiscar a parte branca dos cigarros, pensar como os filtros deles deveriam ser menores. Preciso assistir meu filme favorito, dizendo em voz alta e simultaneamente todas as falas que eu já decorei e tomando sorvete de napolitano direto do pote. Preciso dormir abraçada com meu ursinho de pelúcia sem imaginar que ele é alguém.
E daqui a uns 18 anos, eu espero a sua ligação. Pode esperar, né?

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