24.5.11

SAGRADO CORAÇÃO

Entro na capelinha, uma miniatura de templo sagrado, e me pergunto o que pode haver de sagrado em um teto assimétrico que devia ser o reflexo de um Deus perfeito, onipotente, onisciente, onipresente, oni-qualquer-coisa. Me sinto um pouco hipócrita, também, invadindo a capela daquele jeito quando minhas preces - o choro do meu coração! - poderiam ser ouvidas pela divindade que eu procurava de qualquer lugar onde eu estivesse. Deus! deus, majestade, alteza, senhor, deseja que eu me ajoelhe? Pois é o que me parece conveniente, então me prostro em frente à Cruz da Paixão (graças a tua misericórdia há aqui essa almofada macia para que eu não machuque os meus joelhos, vermelha e de veludo como o tapete pelo qual eu caminhei até aqui). Venho nessa súplica, rezar - implorar! pela indulgência, pela piedade ou pelo menos a condescência de uma força piedosa e divina. 
Mas não me parece certo que seja assim. Não sei nem mesmo como me referir a ti... pois bem, que venha em minha intercessão o São... o São... haverá um santo dos corações partidos, Senhor? Se houver, há de ser uma santa; preciso de uma santa que entenda a minha dor. Já ouvi falar de um coração sagrado (que mania de coisas sacras!), será que ele poderia colar os pedacinhos do meu? Mas estou divagando em minhas orações, perdão. Estou tentando rezar (rezar!!!) para santos nos quais eu nem mesmo acredito, mártires que estão há anos e anos da minha existência e que com certeza tiveram preocupações mais revolucionárias e menos fúteis do que uma dor de cotovelo mal-resolvida.  Perdão.
E com que religiosidade que perdi há muito tempo faço esse tipo de coisa? Com que direito, meu Deus? Meu deus? Deuses, santos, demônios, fantasmas, espíritos, criaturas - perdoem-me por invocá-los em vão, tão levianamente. Vão embora e me deixem aqui, de joelhos, a mercê dos meus próprios sentimentos feridos e tratar deles como o faria um cãozinho selvagem e machucada: lambendo o sangue, limpando os cortes, deixando arder até que cicatrizem, sem deixar ninguém mais tocar. Talvez eu seja só mais um animal sem religião, pois sim. Mas São Francisco de Assis (lá vem eu com esses santos, de novo!) não deixaria um cão sem dono se esconder sob o teto de um santuário?

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