24.5.11

(NÃO) SEM MEDO E SEM AMOR

Venha cá. Vou manter meu controle, coisa que você não sabe (nem eu, na verdade, mas farei esse esforço). Venha cá, pode vir. Meu coração é teu, sinta-o, pode beijá-lo; pele carne músculo tudo estremece ao seu toque que eu tanto anseio. Mas eu respiro fundo, mantenho pulsos atados para que minhas mãos não alcancem além de acariciar teus cabelos, não alcancem o seu desejo e lhe arranquem, eu lhe sugue a alma como tanto pede o meu instinto. Ouve meu coração. Você sabe que ele bate. Com força, com rítmo - às vezes sem -, tamboreia como um atabaque e todo o meu corpo é um terreiro de umbanda, e nele se manifestam os epíritos perversos pervertidos, que seja! que toda a cristandade define demônios. Mas não exorcise agora os meus impulsos animais, não, deixa que eles fiquem, me corrompam me perturbem me enlouqueçam - assim. - com esse teu toque too close for comfort (porque em todas as trezentas e oitenta mil palavras de uma língua linda e vasta não há expressão que defina essa proximidade).
É verdade, você sabe como respirar junto ao meu pescoço, roçar o nariz na minha orelha, tão ingenuamente (há!) quanto você quer que eu pense que você está sendo, e de repente você se afasta. How could you leave me now e vamos fingir que estamos num musical, I did it my way, você canta pra mim, mas canta bem pertinho, vem, que quero ser mártir. Vamos fingir que é um filme e que nosso amor - que amor?! - é proibido. Porque te quero, sinto saudade vontade... piedade!, eu lhe imploro, piedade e me queira de volta.
Ah, mas isso foi há tanto tempo! Eu era uma criança e você queria ser um homem mau, os dedos firmes arranhado as cordas de um violão que era meio meu, os dedos firmes acariciando a minha pele e eu virando o rosto porque ninguém pode ceder. Um homem mau que me fazia cantar aquela canção que eu tanto adorava, e eu me doía, e você me dizia: aprendi por você. Mas você era um menino.
Sempre vai ser.

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