2.8.11

VALENTINA


Eu ainda era uma criança inocente quando a conheci. Não mais do que cinco meses  seriam isso? – mais velha que eu, Valentina também não era nenhuma mulher madura. Mas uma coisa eu posso afirmar, também não era nenhuma menina ingênua. Foi ela quem me ensinou a pular o muro da escola e fugir correndo pro parque, e talvez seja por isso que eu nunca soube direito as inequações matemáticas e suas funções, ou o que quer que isso seja. A gente deitava na grama e olhava o céu, e Valen roubava todos os dias os cigarros da mãe – nunca mais que dois, porque ela não podia perceber. Ela os acendia com o isqueiro cor-de-rosa e eu só ficava olhando a fumaça subir ao céu. De vez em quando os nossos dedos ficavam próximos o suficiente para que se tocassem, roçando na grama, e nesses momentos nos dávamos as mãos. Me entendam, por favor, eu só tinha onze anos e jamais veria aquilo com malícia. 
– Flora, florzinha, flor... – ela cantarolava com aquela voz infantil que nunca mais mudou, e eu sorria e sorria. Pegava a gaita e soprava, sem jeito, sem saber tocar, Valentina pedia: – toca aquela, sobre ladrilhar a rua com pedrinhas de brilhantes! – e depois ria por saber que eu não conhecia uma nota sequer. Com seus doze anos de idade, ela tossia eu batia nas costas dela.
Valentina me ensinou a fumar. Me ensinou a mentir. Me ensinou a fazer bem as unhas, também, e me ensinou alguns palavrões em italiano que ela sempre ouvia a vó dizer. Naquele mesmo parque, entre uma tragada e outra, Valentina me ensinou a beijar.
– Mas como é que você vai sair com o Luca sem saber, Flor? Vem cá, faz assim – os dedinhos suados no meu rosto, ela roçou os lábios mornos nos meus, sussurrando – me acompanha...
Ah, Valentina, se você soubesse que aquilo significou tudo pra mim e nada pra você! Valen, Ti-na, Va-len-tina, eu cantarolava, e ela, Flora, florzinha, minha flor, meu amor. Em nenhum dos nossos beijos, nenhuma das nossas noites, em nenhum dos seus toques eu encontrei novamente aquele dia.  Mas naquele momento eu não sabia. Como poderia saber? Tudo ocorreu direitinho com Luca e nós tivemos aquele namoro pré-adolescente de duas semanas que me pareceu quase infinito. É claro que eu preferia quando a gente brincava de boneca no quintal da casa dela, e gostava muito mais de fazer trancinhas no cabelo de minha melhor amiga que de andar de mãos dadas com meu namoradinho no pátio. Mas eu não sabia. Eu ainda era aquela criança inocente demais pra saber... e Valentina? Valentina não era uma mulher madura, mas também nenhuma menina ingênua.

Um comentário: