21.8.11

Avulsa (falta de) sorte

Minhas mãos tremem e só consigo acender meu cigarro na terceira tentativa. Não é exatamente fácil soluçar e tragar, tragar, soluçar, chorar, engolir um nó de insegurança, sufocando minha garganta, lágrimas e fumaça inundando meus pulmões. Mas, oras, não fazem cinco dias que jurei pelos céus: "não fumo!" Não mais, não mais - assim prossigo quebrando as promessas que faço a mim mesma: sem embriaguez, sem entrega, sem doar pedaços meus para cada amor. Entre- tanto (grafado assim mesmo, separadamente) - entre tanto rancor, entre tanto sonho, entre tanta mentira; dá cá uma garrafa inteira de cachaça, dá cá teu coração inteirinho, por favor, dá cá a tua mão. Entretanto, tendo eu jurado nunca mais amar-te, nunca mais amar ninguém, encontro-me repleta desse sentimento sem destino, amando sem ter a quem dedicar meu amor da maneira devida. Lhe parece belo só por ser tão triste, e se Agosto torna-se mais desgostoso a cada ano, quem me garante que Setembro será bom, que não vão me deixar todos com a chegada da primavera? Sinto-me só, sinto-me um peso (e peço perdão todo o tempo), tristemente viva, quase em coma. Sinto-me uma pessoa horrorosa, e não me importaria em ir parar logo no inferno, o qual eu nem acredito. Quase em coma - quase; pois me engano, a mim e a todos, com sorrisos entusiasmados e abraços calorosos, obedecendo como um cordeiro àquilo que um dia ouvi chamarem "ditadura da felicidade". Já não quero freqüentar as aulas, a igreja, as festas, as reuniões em família e nem mesmo a sala de tevê. Já não tenho onze anos e meu desejo é vagar pelas praças, vagabundeando pelos botecos e acomodando-me, torta, em um meio-fio de qualquer rua (movimentada ou não, desde que não por conhecidos e menos ainda por aqueles a quem prezo). Não quero ver ninguém, exceto, talvez, a menina com aqueles adoráveis dentinhos tortos que ainda (repito: ainda) não me causou dano algum. Ela aquece um pouco o frio do inverno e atenua a dor do inferno, mas vai partir quando as flores desabrocharem. Eu sei. Todos se vão (se não sou a substituta, sou a substituída), já que tenho o valor de uma mapa do tesouro, útil até que se alcance o que realmente deseja. Me deixar por alguém mais bonita, mais inteligente, mais interessante, com pulsos limpos e sem seqüelas.
Você sabe. Pára de fingir que não! Sabe que sou errada, que sofro, que sou uma homicida platônica, uma suicída fracassada. Sabe que não sou guerreira. Sabe que tudo dói. Sabe que só não te falo isso porque a quero tão bem. Quero um café, um conhaque, qualquer bebida que seja morna; quero beleza (a tua, um pouco pra mim), liberdade, verdade... quero amor. Eu: que não fumo, que não bebo, que não sinto, que não crio, que não minto, que não dôo (de doar, de doer), que não gosto (de sabor, do verbo "gostar"), não escrevo, não escuto, não canto, não digo, não reclamo e nem me importo. Eu, que não sou parte do universo ou da vida, que sou tão desconexa e insípida, que nem existo fora desse sonho, pesadelo, estória ou jogo de marionetes entre Deus e o Diabo. Eu, que sou culpada por um pecado que nunca cometi; eu, que hei de morrer antes dos trinta (não de corpo, mas de-mente) com todas as ilusões que me preguei. Eu, que apanhei tão pouco dos outros e tanto de mim mesma! Eu, que me dei três chances, mas já estou na quinta, e nem me boto fé. Sei que a primeira chance foi, na verdade, a última. E que acabou antes mesmo do começo. Mas toda vez que morro, também ressuscito um pouquinho. Essa é minha (falta de) sorte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário