20.10.11

Dissolução instrospectiva

Num mundo fadado à melancolia aos finais de domingo, onde se mastiga e engole depressa demais, pouco dado a cumprimentar desconhecidos, e em que as pessoas mal têm ciência da tonalidade da cor dos olhos de seus amores; bem, num mundo como este, me apetece muito listar pequenos prazeres (que - confesso! - eu mesma mal dou a devida atenção): cheiro de incenso de jasmim queimando num fim de tarde de céu plúmbeo e janelas úmidas; o pio da coruja compartilhando de minhas madrugadas insones e pondo ritmo em minhas leituras; despertar, vezenquando, com as carícias dos raios de sol; enfiar os dedos dos pés descalços na areia do parquinho; riso de criança, lambida áspera de filhote de gato nascido no telhado da vizinha; o aroma forte do café preto pronto na exata metade do dia;   beijo: na têmpora, no pescoço, no pé do ouvido, olhos, pulsos, testa, queixo, lábios. Num mundo onde não se aprende bem a distinguir o sabor do amargo do azedo até que se viva os tropeços nos pomares (isto, meu bem, é essa a coisa chata que se chama crescer), ou amor de paixão (até uma noite em que um ou uma prefira assistir um bom filme àquela ardência toda), e em que é raro apreciar a bela vista e a boa música - nele, entrego-me às rasas filosofias de butiquim, e nelas me aprofundo, num mergulho dentro d'alma dos bêbados (que se tornam poetas e, conseqüentemente) loucos. Num mundo em que nos queixamos do tempo perdido na troca do horário de verão, obrigo-me a reler a página daquele romance e fechar os olhos, imaginando, até que as imagens em seus tons e nuances se componham diante de mim. Neste lugar onde nos agarramos tão desesperadamente a cada grão de sentido, procuro.. melhor: procuremos, por favor, aceitar a ausência dele - se não completa, apenas parcial. Numa sociedade contraditoriamente conformista e reclamona, tentar fazer com que um mundo como este se pareça com o meu próprio.

Um comentário:

  1. o gabi eu nem leio esses negócio seu, tem muita letra, mas vc é legal

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