26.4.11

LÁ VEM O SOL

"(...) - Você é o próprio sol para mim, Sunny. - Conrad abraçou a garota, empurrando sua nuca contra o próprio peito, os dedos gentilmente enterrados naquela explosão de cachos louro-arruivados. Ela chorava copiosamente, um rosário de lágrimas quentes escorrendo pela pele nua dele, seus os lábios eternamente febris roçando nela de uma maneira que seria deliciosa se não parecesse tão triste e desesperada. Aquela perfeita imagem da vivacidade e da alegria que era Sunny, agora irrompendo num pranto capaz de cortar o coração até mesmo do demônio em pessoa. Estava errado. A missão dele era consolá-la, fazê-la enxergar... ele tinha que conseguir - Você iluminou o céu escuro vazio de estrelas que me cobria. Não pode fazer mal. A culpa não foi sua. Culpe a natureza, quem quiser! Mas não seria capaz, não é mesmo, de culpar alguém. Você é boa. É a melhor pesso que eu conheço, Sun. Tudo isso foi há muito tempo. E você ainda se sacrificando dessa maneira! Você não é um raio de sol apenas. Sabe disso. Não, não chore assim. Não combina com você - ele beijou-lhe a testa ardente e ergueu-lhe o rosto pelo queixo - Já disse. Você é o próprio sol! Uma estrela inteira!
 Os olhos de Sunny, naturalmente, brilhavam úmidos e cor de esmeralda, enfraquecidos por aquele longo abraço. A boca estava quase branca. Ainda era noite, Conrad lembrou-se. Soltou-a e deixou que ela se recompusesse, o choro morrendo na garganta, até que respirou fundo, falhado. Deu um fraco sorriso. A voz soava estrangulada e demasiado humana:
- Há muito tempo deixei de ser sol. Era uma estrela morta, só isso. Não vinha sido boa, abandonara minhas esperanças de redimissão. Até aquela noite, aquele incêndio. A noite é tão bela, Conrie, querido. - ela fungou - Tão bela quanto o dia. Mas a luz da Lua não vem dela, Conrad. Vem do sol. - o sorriso abriu-se um pouco mais - Me contento em ser Lua. Você é o sol. Minha luz, ela vem de você. É você iluminando o céu, sempre foi. É uma pena, uma lástima, que sol e lua só se encontrem nesse eclipe esquisito. Não é natural que estejamos juntos, mas não me importo. Você me deixou obcecada pelo seu brilho. Você é bom para mim. Obrigada - ela secou as lágrimas com o pulso.
Mirou o céu, Conrad imitou-a. Era uma bela madrugada vista do piér. A noite se esvaía, ambos podiam sentir o Rei Sol se aproximando. O Pai Sol. A Mãe Terra. Nada daquilo parecia fazer sentido - seres místicos milenares ou mesmo a trivial humanidade orgânica. O sobrenatural e o natural. Para quê tudo isso, essa distinção? O Universo ainda era jovem e parecia perfeitamente certo que eles estivessem ali, pensou Conrad. Isso sim fazia sentido. Se ele a beijasse agora, enquanto o sol nascia, não haveria perigo algum.
O primeiro raio despontou ao leste, refulgindo no mar calmo. Sunny parecia animar-se, e o garoto não pode deixar de rir à essa visão. Se ela era a lua, era uma lua um tanto diurna. O sorriso que ela abriu ao sentir a chegada da manhã era o seu típico, que parecia emitir luz própria. Ele tocou sua bochecha que mal parecia feita de carne, talvez porque mal fosse feita de carne, e virou o rosto da garota para si.
Sim, os lábios quentes contra os seus mornos, pressionados, os dedos quentes em seu pescoço, a língua quente na sua. Sim, o pescoço também era quente, e os ombros, e a delicada concha da orelha. Essa era a Sunny dele, mergulhada naquela entrega, naquela redenção. Aquilo verdadeiramente os redimia. Poderiam ficar assim até o cair da próxima noite, Conrad tinha certeza disso, mas o fôlego, o  fôlego de Sunny... sua melhor amiga, sua Sun, sobrenatural, contraditoriamente fraca... e apaixonada, era o que parecia. Estaria ele também apaixonado? Com esse pensamento, desprendeu-se dos beijos e das carícias que eles bem queriam que durassem tanto mais. Estava claro e o céu estava anil. Não existiam tragédias e maravilhosas lendas sobre um povo imortal. Apenas Conrad, Sunny e a praia branca e banhada de sol da manhã.
- Está tudo bem - ele sussurrou.
E estava mesmo."

-
Lá Vem O Sol, quem sabe em andamento. Ou talvez não.

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