26.4.11

(Uma descrição subjetiva e dramática do rompimento de um primeiro amor adolescente, aqui descrita como a mais sacra das fés)

Sejamos claros. Seguir em frente é exaustivo. Metaforicamente - porque as metáforas são essenciais, mesmo que imprecisas; a imprecisão é um direito meu, assim como essas palavras e essa história também são minhas. Metaforicamente, é uma trilha. Não uma estrada, mas uma trilha selvagem traçada por alguma fera - a fera instintiva do puro desespero. A divideremos em três etapas.

Certamente a primeira lhe pareceria a mais difícil, mas eu a comparo com uma simples queda. Não é necessário esforço algum para o cair desesperador, o terror de não mais sentir base alguma sob os pés. Eu me lembro de ter irrompido num choro copioso quase imediatamente; soluços frustrantes noite após noite, as tentativas frustradas de flutuar de volta até o topo firme da montanha. A queda-livre não exige esforço algum - o sofrimento, na verdade, é quase cômodo. A fé ilógica e incessante de rezar um rosário de lágrimas, o consolo da auto-piedade. Pareceu-me tão apavorante cair... até tocar o solo novamente.
Era uma descida íngreme, uma caminhada de pés descalços por um caminho torutuoso de rochas. É a fase do ódio, onde se caminha até a boca do Hades, como fez a bela Psique. Mas não por amor, o que outrora faria de bom grado e em paz, mas sim pela amargura que um coração torturado criara. Ele me empurrara ali! Por ele eu esfolava meus pés sangrentos e doloridos. Deus, eu o odiava. Não. Na verdade, não podia. Mas como queria! Frequentemente eu tropeçava e caía. A queda era mais misericordiosa. Mas eu precisava prosseguir, não podia voltar atrás. Até que encaramos face a face os portões infernais.
E pela Graça sois salvos. Toma a tua cruz e segue-me, diz o perdão. Um monte - o calvário, o sinai, o moriá, não sei. Sacrifício - das mágoas, do eu. Deve-se subir, e essa é a parte mais difícil. Perdão. Graça! Ainda as pedras, o cansaço de uma subida que parecia-me eterna. Sacrifício, a mais pura e verdadeira forma de libertação. Seguir o perdão. Perdoa-o, ele não sabe o que fez. Perdoa-te, te permite deixar para trás os rancores, aceita as cicatrizes.
O topo. Uma experiência indiscutivelmente divina, ver o sol morno a criar sua aura, secando as feridas.
E enfim, a cura. As memórias apagadas. Não, o triste fim daquele amor tempestuoso não tornou-se apenas uma superação. Foi salvação.

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