26.4.11

PARA SOFIA

Eu me olho no espelho e não é o meu rosto que eu vejo. Meu reflexo tem olhos azuis, a pele clara, os cabelos dourados e faz um perfeito contraste físico comigo, mas a alma é a mesma. A mesma alma exagerada, intensa, inquieta, livre, inconformada, imprudente, dramática, transitória e multipolar. Os mesmos pulmões sujos, as mesmas vísceras fracas, o mesmo espírito grande demais pra ficar preso na carne.
O nome dela é sabedoria, o que é meio engraçado. Engraçado porque ela não sabe bem o que fazer bem com tantos sonhos em uma vida tão curta. Sonhos, não planos, porque ela também não é lá muito boa em planejar. Ela é um desastre com qualquer coisa que necessite um mínimo de organização. Pudera, a mente dela é um caos.
O nome dela é sabedoria, o que faz muito sentido, já que ela anseia tanto por fazer caber o universo inteiro em sua cabeça.  Pensa, logo muda de idéia. Não é lá muito apegada a conceitos, dogmas; não precisa gravar suas opiniões em rocha. Sabedoria, pois ela sofre constante metamorfose, e, vendo parte, quer enxergar o todo.
Sofia não é lá flor que se cheire. Não é flor que se colhe e coloca em um buquê. Vai crescendo sem poda, sem cuidado, se enroscando onde quer ou até distraidamente sem querer onde não quer, às vezes. Algumas pétalas meio comidas pelos insetos que a machucaram, mas tudo bem. Ela tem espinhos fortes. E já dizia Saint Exupéry que é preciso suportar algumas lagartas se quiser conhecer as borboletas.
Através do espelho, é Sofia quem eu vejo.
E antes do desfecho, um segredo. Se antes de amar os outros, é preciso amar a mim mesma… é olhando pra ela que eu vejo beleza em mim.

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