26.4.11

PERIGOSAMENTE PERTO

As lágrimas marejavam os olhos castanho-claro de Audrey, tornando-os quase verdes. Ela mal podia continuar segurando o choro, e Adam mal podia continuar segurando as mãos dela; mas eles estavam se esforçando para isso.
- Posso pedir perdão? Eu não tinha a intenção de te fazer chorar… - tentou ele, com cautela.
- Não estou chorando. - rebateu ela com secura, talvez até com alguma agressividade. Adam podia sentir as mãos trêmulas dela, ouvir a voz falha.
E o silêncio, esses segundos que pareciam tão eterno quanto o amor devia ser.
- É difícil esquecer - continuou ela, a voz agora mais calma e um tanto melancólica -, só isso.
- Eu sei, Audrey. E eu me arrependo de todas as vezes em que errei com você.
Agora ela realmente não podia mais suportas as lágrimas; piscou com força e deixou que elas caíssem pelas maçãs do rosto. Com um sorriso triste e forçado, soltou suas mãos das de Adam - mãos bem mais macias que as dela. Suspirou, e o ar ardeu como fumaça ao entrar e ao sair de seus pulmões. Não conseguia olhar para ele. Encarou os pés.
- Eu não sei porque você está indo embora, mas você deve ter seus motivos… - Audrey conseguiu dizer num murmúrio falho e quase inaudível; com um esforço enorme, deu de ombros.
- Eu estou vendo as lágrimas nos seus olhos, Audrey… - Adam segurou o queixo da garota, erguendo o rosto dela e secando suas bochechas com o pulso esquerdo. - Está ficando tarde…
Era verdade. O Sol se punha. Era tão bonito, de um jeito triste, o fim daquele dia. O fim daquilo tudo? Isso só deixava as coisas mais difíceis.
- Quer que eu te leve pra casa?
Claro que ela queria, mas não conseguia responder nada. Não sabia se estava pensando ou sentindo isso, mas era como se ela estivesse perto demais, como se estivesse tentando entrar numa vida da qual ele a estava empurrando. Como se houvessem segredos que ele não queria que ela descobrisse. Ela não podia entrar naquele carro.
Fez que não.
- Lembra… quando a gente escreveu os nossos nomes na areia? - Audrey sentiu-se idiota ao perguntar isso. Ela sentia-se idiota chorando na frente dele. Mas doía, doía e sufocava, e ela precisava colocar isso pra fora.
Adam acenou com a cabeça. Ele se lembrava. Como esquecer?
- Você mudou de idéia, não foi? - outro daqueles terríveis sorrisos forçados. Era preciso um esforço monstruoso apenas para um curvar de lábios.
Não. Ele não tinha mudado. Ela não tinha mudado. Mas isso não podia ser dito por ninguém. Eles eram simplesmente obrigados a saber, ou obrigados a esquecer. Não fazia mais muita diferença, agora.
Adam não podia dizer a verdade. As bolsas abaixo dos olhos estavam inchadas, talvez porque estivesse segurando suas lágrimas ou algo assim. Audrey pensou que ele devia guardar suas mentiras lá. Mas apesar da dor, apesar da mentira, ela precisava dele naquele momento. Abraçou-o com força, jogando os braços em volta daquele pescoço quente que ela costumava beijar. Adam sentia as lágrimas escorrendo nele, e passou os braços ao redor da cintura dela como se quisesse voltar atrás, apertando-a contra si com força o suficiente para fundir as duas almas pela última vez.
- Tá tudo bem, calma…
Não estava tudo bem.
Ela o soltou. E deixá-lo ir doía como o inferno. Mas ela deixou. 
Tirou do bolso traseiro um envelope amassado e estendeu para ele, que o pegou. Audrey mordeu o lábio inferior - estava nervosa, arrancou uma película com os dentes. 
- Eu escrevi isso pra você ontem. Era sobre como eu me sinto… sentia. Sinto. Sei lá. Acho que não importa mais, não é?
Ele não respondeu.
- Foi o que eu imaginei - Audrey deu de ombros, os olhos agora secos e a cabeça erguida. - Boas festas, Adam.
Ela virou de costas e se foi, exigindo de si mesma, a cada passo, uma força que nunca possuíra. Faltavam exatos sete dias para o Natal.

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